No antigo campo do LEC, abandono marca gol de placa

Agora Laguna retornou ao complexo esportivo nesta semana. Com pouca movimentação de conservação, o que se vê no local, além dos cavalos, são pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Estado de abandono se estende também pelas instalações de camarote, vestiário e cabines de rádio. Após muitas semanas sem cuidados, nesta sexta-feira, 23, equipes da Frente de Trabalho começaram a trabalhar no corte de gramas.
Foto: André Luiz/Agora Laguna

Palco de muitas decisões do futebol amador, jogos da segunda divisão do Catarinense e até de shows musicais, o Estádio Municipal João Batista Wendhausen Moraes amarga uma dura realidade, a do esquecimento. Construído em uma época de desenvolvimento da cidade, nos anos 1980, o complexo esportivo foi erguido na Vila Vitória (região conhecida como Alagamar) para representar o renascimento, principalmente, do futebol em Laguna, e vive na expectativa de receber obras que permitam sua revitalização por completo.

Abandonada, a praça esportiva perdeu os alambrados, o gramado está sem cuidados e tomado por fezes de cavalos que por ali se alimentam. A estrutura de vestiário está inutilizada, com restos de lixo e entulhos. Mesma situação é vista no camarote, erguido um andar acima. O último pavimento do estádio não pode mais ser acessado. A escada metálica que permita chegar até o local, usado pelas emissoras de rádio, não existe mais.

Para Geraldo de Oliveira, o popular Tchú, manter o estádio sem condições é lamentável. “A gente chora. Quem é do esporte chega ali e vê assim, é lamentável. Quantos empregos diretos poderiam ser criados a partir dali: treinador, roupeiro, atleta… Faz muita falta para nós. Vou quase todos os dias olhar. Vemos os outros campos e se nós arrumarmos não vai ter comparação, é para ser um lugar muito bonito. Dá pena de vê-lo assim”, confessa. Organizador de escolinhas do futebol e ex-coordenador do Genoma Colorado, projeto que o Sport Club Internacional de Porto Alegre (RS) manteve na cidade, Tchú se mostra cético. “São muitas promessas. Tenho pé atrás, mas vou ficar torcendo. Gostaríamos muito [de ter o estádio de volta]”.

A última sobrevida do estádio foi em julho de 2019. A Fundação Irmã Vera chamou para si a responsabilidade de arrumar o local e pôs os bolsistas da Frente de Trabalho para cortar a grama, limpar o entorno e pintar os muros. A iniciativa encheu de esperanças a prefeitura, com o então prefeito Mauro Candemil (MDB, 2017-2020) declarando à época que havia a possibilidade de o complexo servir como campo para a final do campeonato amador. O torneio encerrou e o estádio não voltou a ser usado.

Reportagem publicada por Agora Laguna, em janeiro de 2019, revelou que a expectativa da administração municipal era captar R$ 1 milhão para custear a reforma da edificação, cobertura, demolições, instalações elétricas e hidrossanitárias, entre outros. Pouco mais de um ano depois, em julho, a prefeitura anunciou o recebimento de recursos de uma emenda parlamentar federal no valor de R$ 238,7 mil (com contrapartida de R$ 47,5 mil do município), do cofre do Ministério da Cidadania, destinada pelo senador Dário Berger (MDB).

Também em 2020, em dezembro, a Caixa Econômica Federal (CEF) autorizou financiamento de R$ 7,7 milhões, com pelo menos R$ 700 mil previstos para aplicação no estádio. Desde então, não houve mais menções ao campo do Laguna nos canais oficiais da prefeitura. Agora Laguna retornou ao complexo esportivo nesta semana. Com pouca movimentação de conservação, o que se vê no local, além dos cavalos, são pessoas em situação de rua e usuários de drogas.

Bola em jogo

Numa partida de futebol, são onze jogadores para cada lado, disputando 90 minutos de jogo em busca de um título ou da vitória. O estádio do LEC ainda aguarda o apito do árbitro, ou melhor, do mestre de obras para que comece a ter mais um momento de revitalização. A última grande intervenção foi em 2004, quando até o gramado já estava destruído por ter sido local de shows. A partir de 2012, o local se tornou parque de máquinas para a empreiteira contratada para as obras do esgotamento sanitário da cidade.

“Precisamos do estádio municipal recuperado para devolvermos à comunidade a prática esportiva com escolinhas de atletismo, realização dos jogos do Campeonato Municipal de Futebol e também para uso dos clubes, realização de torneios e também para uso das escolinhas, além das salas que teremos para outros projetos esportivos e do próprio DME. É uma obra de extrema importância para o departamento colocar em prática sua ações”, afirma Tadeu César, coordenador de Competições do Departamento Municipal de Esportes (DME) de Laguna, que cuidou da parte documental dos encaminhamentos para a reforma.

Com a desativação da liga de futebol da cidade, o órgão assumiu a missão de organizar os campeonatos de futebol. Atualmente na cidade, os times mandam jogos em campos particulares em Barranceira (Santa Maria), Cabeçuda (antigo Corinthians), Bentos (América), Barbacena (antigo Fluminense), Caputera (Baixada e Paulo Carneiro), Estreito (Beira-Mar) e Portinho (Avaí). O campo do LEC é sempre cogitado para receber as finais, já que além do espaço é considerado uma praça esportiva neutra.

De acordo com Tadeu, a revitalização do estádio vai ocorrer em duas etapas. Na primeira, com a emenda destinada por Berger, será construída uma estrutura com banheiros, salas e vestiários no outro lado. “Já está bem adiantado, a Secretaria de Planejamento está finalizando o projeto estrutural e em seguida também já fará o orçamento da obra para encaminhar ao setor de licitação”, antecipa. Ano passado, uma empresa contratada pela prefeitura atestou a viabilidade da reforma. Essa segunda etapa deve ser realizada com os R$ 700 mil, financiados pela CEF. “A ideia é ainda esse semestre concluir o projeto para já dar entrada no processo licitação e em seguida já começar a obra”, diz.

O DME aguarda a conclusão do conserto de um trator especializado em corte de grama, previsto para ser entregue em dez dias, para que seja dado início à manutenção do gramado do campo. “E aí o departamento fará manutenção de todo os campos em parceria com os clubes”, finaliza o coordenador. Nesta sexta-feira, 23, após muitas semanas sem qualquer cuidado na praça esportiva, uma equipe da Frente de Trabalho esteve fazendo alguns reparos no gramado.

Próxima rodada

“Não é somente o campo, temos que melhorar também o entorno”, sustenta o prefeito Samir Ahmad (PSL). Para o chefe do Executivo, além do estádio, a área ao redor do local precisava também ser revitalizada. O ideal é que seja feita uma praça voltada ao incentivo à saúde, com equipamentos de ginástica. “Tudo o que é ligado à saúde, tentaremos fazer na praça para que possa ser, quem sabe, um centro de treinamento”, comenta.