Parceiro de Ivaldo Roque, músico Jerônimo Jardim morre no RS

Jardim e Roque compuseram a música 'Moda de sangue', incluída nas trilhas sonoras das telenovelas Coração alado, de 1980, e Torre de Babel, em 1998, ambas da TV Globo.
Ivaldo Roque e Jerônimo Jardim em apresentação de 'Moda de sangue'. Foto: Arquivo de Henrique Mann.

A cultura e a música perderam, na última quinta-feira, 3, a voz e o talento de Jerônimo Jardim. O músico tinha 75 anos e morreu no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), onde estava internado há mais de um mês em razão de insuficiência respiratória. Jardim foi parceiro do lagunense Ivaldo Roque, com quem compôs Moda de sangue, famosa na voz da também gaúcha Elis Regina (ouça abaixo).

Jardim era natural de Jaguarão e morou em vários municípios até fixar residência na capital gaúcha no começo dos anos 70, quando começou carreira artística. É nesta fase que conhece Roque e monta com ele o grupo Pentagrama, que teria ainda as participações das vozes Loma e Yoli e do baixista Tenison Ramos. O quinteto lançou um único LP em 1977 e viria a ser desfeito pouco tempo depois.

A amizade entre os dois continuaria até 1985, quando o lagunense faleceu. Em entrevista a Henrique Mann e Gilberto Eitelwein, para o projeto de pesquisa Som do Sul (CEEE, 2002), o gaúcho relembrou como surgiu Moda de sangue: “Ivaldo pegava as letras e tinha um impulso de criação. Eu tinha feito uma letra em 1976 e levado para ele; a letra tinha metáforas da época, referia-se à tortura. Nós estávamos saindo de um período muito difícil, estava muito presente aquela coisa do silêncio imposto e da tortura, que todo mundo sabia. Ele olhou a letra, não sei direito se gostou ou não, mas teve o impulso de fazer um xote”, relembrou.

Jardim continuou o relato: “Aí ele pega o violão e utiliza acordes de um xote, jocosos. Eu fiquei encabuladíssimo; que porcaria de letra que fiz, pensei. Aí ele foi fazer a barba para sairmos para tocar no Vinha D’Alho. Eu fiquei com aquele xote na cabeça, era uma música tão forte. Então, ao invés de tocar ela como xote, comecei a fazer ela bem lenta e a liberar os acordes, tudo o que ele tinha me ensinado, comecei a fazer uma harmonia sofisticada. Aí ele disse: ‘que bonito, que música é essa? E eu só pude responder: ‘É a tua’. Ele tinha esquecido o que fizera de impulso, eu é que a guardei”.

A canção ganhou projeção nacional ao ser gravada pela também gaúcha Elis Regina e ser incluída nas trilhas sonoras das telenovelas Coração alado, de 1980, e Torre de Babel, em 1998, ambas da TV Globo. O sucesso alcançado com Moda de sangue o levou para o Rio de Janeiro no começo da década de 1980, época em que passou a ser servidor do Poder Judiciário gaúcho. Sepultado em seu estado natal, Jerônimo Jardim deixa a esposa, dois filhos e um neto, a quem repassou os violões que lhe acompanharam durante a carreira musical.