Cem anos de rádio no Brasil: FMs também fazem parte da história

As FMs começaram a chegar ao Brasil nos anos 50 e se popularizaram nos anos 70. Em Laguna, duas estações são pioneiras: a 103,1 foi a primeira comercial e a 87,9 é até hoje a única comunitária da cidade.
Foto: Luís Claudio Abreu/Agora Laguna

O rádio em frequência modulada começou a ser desenvolvido ainda nos anos 1930 e começou a ser expandido na década seguinte. Em 1955, a Rádio Imprensa, no Rio de Janeiro, foi instalada e se tornou a pioneira da América Latina, mas era sintonizada somente em ambientes como escritórios e consultórios, através de um serviço de assinaturas. O FM foi pegar mesmo a partir dos anos 1980, com o surgimento de estações como Cidade, Transamérica e Jovem Pan, que acabaram criando redes com afiliadas por todo o país.

Carlos Araújo Horn lembra que a Difusora de Laguna chegou a cogitar ter uma estação em FM, mas havia o temor que ela ficasse restrita ao modelo da Imprensa carioca. Dessa vez, o pioneirismo acabou passando. A primeira emissora comercial a ser montada na cidade juliana em frequência modulada foi a 103,1 FM, afiliada à Rede Transamérica Hits.

A concessão foi autorizada em meados da primeira década do milênio. Em 2002, o Jornal de Laguna anunciava que a rádio estava sendo organizada. De propriedade do empresário tubaronense Túlio Zumblick, a Transamérica inicialmente seria chamada de Rádio Mais FM e teria uma programação local, segundo lembra Paulo Roberto Cereja, radialista com passagens pela Difusora e Garibaldi, e que na época estava ocupando os microfones de rádios em Tubarão.

“Tinha uma expectativa de que transmitíssemos com programação local e o nome seria Mais FM, até compramos algumas vinhetas para ver se soava legal, fizemos testes”, conta. “Mas depois, o Túlio foi convencido pela experiência de já ter trabalhado com uma rádio via satélite [a Band FM] e a gente optou na época por trabalhar também em rede”. A rádio também tinha uma ideia de ser uma conexão das famílias com o pescadores. “A gente fez isso durante um tempo, mas era complicado ter a informação”.


Ouça: Cem anos de rádio no Brasil – a história em Laguna | A 103,1 FM


Em 2008, começaram as experimentações da Transamérica Hits e na manhã do dia 5 de janeiro de 2009 não havia mais o que ser testado, a emissora foi para o ar definitivamente. Com programação voltada ao musical, sobretudo jovem, a primeira atração local que foi transmitida foi o Transnotícias, que era um espaço voltado ao jornalismo. “Posso dizer que uma passagem dos meus 42 anos de rádio, foram os onze em que fiquei na Transamérica. Fui para lá desde o alicerce e antes de entrar no ar, fizeram o convite e fiquei lá até 2020”, conta Celso Fernandes, que fez parte da equipe inicial da estação.

Uma década depois de sua estreia, a 103,1 FM provou novos ares. A Transamérica rede resolveu unificar suas programações e emissora de Laguna buscou uma nova bandeira. Depois de algumas conversas com portadoras, a escolhida foi a Rede Mix de Rádio, cuja musicalidade é voltada para o pop rock. No final de 2019, a estação passou a se identificar só pela frequência e em dezembro, foi relançada com o nome de Mix Sul. A apresentação aconteceu durante o programa Mix tudo, em rede para todo o país. No mesmo dia 23, a Mix de Lages também foi ativada. “A Mix veio para atender uma demanda existente aqui na região. [A migração] foi um momento muito desafiador”, diz a comunicadora Layse Rezende. Com sede no Centro Administrativo Tordesilhas e transmissores no Morro de Laranjeiras.

Rádio comunitária, uma conquista

Experiências realizadas nos anos 80 e 90, de forma até clandestina, ajudaram a formatar o que viria a ser a autorização para concessões de rádio do tipo comunitária, as radcom. Emissoras desse tipo, como a Autêntica Favela FM, de Belo Horizonte, se caracterizam por voltar sua programação para o lado cultural e social. Diferente de uma estação comercial, a comunitária não veicula publicidades e tem algumas restrições, como o raio de transmissão que não pode exceder um quilômetro.

A legalização das concessões em 1998, acendeu a luz de uma ideia na Vila Vitória. Ainda em 2002, Marcos Estevão, junto com outros moradores do bairro, como a artesã Júlia Guedes, montaram a Associação Cultural de Comunicações Lagunense e deram entrada no processo de obtenção de uma autorização, formalmente concedida em 2007. Inicialmente, a emissora entrou no ar em 104,9 FM, depois migrou para 98,3 FM e se fixou em 87,9 FM.

Equipe da Rádio Vitória, no Carnaval em 2009. Foto: Arquivo da emissora.

“A rádio comunitária da Vila Vitória surgiu de uma oportunidade que o Ministério das Comunicações deu de as comunidades montarem uma rádio em seus bairros. A lei surgiu em 1998 e com a ideia do nosso amigo Alaelson Soares, que me procurou para fazer a fundação de uma associação. Tinha que ter uma entidade para participar da outorga e isso nasceu no antigo Alagamar. Participaram várias pessoas que moravam ali”, conta Marcos Estevão.

O nome da rádio foi Vitória FM. A equipe contou com nome já conhecidos do cenário comunicativo de Laguna como João Carlos Wilke e o seu personagem Índio Pataxó, Manuel Antônio Silva, Oscar Vicente, Paulo Sérgio Silva e Álvaro de Oliveira. A eles, se juntaram Volnei Estevão, Carlos Martins, Júlia Guedes, João Batista Barreiros, Onildo Correa, e o próprio fundador. “Eram musicais, compra e venda, jornalísticos. A comunidade sempre participava”, resume Marcos Estevão.

Em 2018, a associação ganha nova diretoria e a rádio vai para o bairro Progresso, com estúdio na rua Coronel Fernandes Martins. É nesse momento em que muda de nome para Rádio Laguna Online, demonstrando foco também na transmissão virtual de sua programação. No ano de 2020, a emissora vira Hits FM e passa a se concentrar em musicais e programas de entrevistas, como Jota Raulino e o cidadão. Recentemente, o governo federal abriu espaço para uma nova emissora funcionar em 87,9 FM, desde que fique a pelo menos quatro quilômetros de distância da atual.


Ouça: Cem anos de rádio no Brasil – a história em Laguna | 87,9 FM, rádio comunitária


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