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Juan Fernandes, um bombeiro sonhador

Toda criança é sonhadora e ainda na infância cultiva o desejo de seguir alguma profissão. Juan Fernandes, 47, não fugiu à essa regra. Desde pequeno sonhava em ser bombeiro e não mediu esforços em conseguir realizar essa meta. Com mais de 30 anos de experiência e estando na reserva desde fevereiro deste ano, o sub-tenente é o personagem que o Portal Agora Laguna escolheu para marcar esta quinta-feira, 2 de julho, quando se comemora o Dia do Bombeiro.

Nascido em Laguna, ele começou a trabalhar desde cedo, tendo algumas experiências em lojas no comércio do Centro da cidade. Mas a vontade sempre era subir a bordo do caminhão vermelho, que Fernandes sempre admirava quando via na estrada a caminho de mais uma ocorrência.

“Trabalhei numa madeireira e tinha um bombeiro que trabalhava ali nos dias de folga e eu me inspirei naquela figura. Isso me motivou a ir para Florianópolis, fazer o concurso”. Esse bombeiro era o, hoje, sargento Manoel Tadeu de Souza. “Ele gostava muito da profissão e pedia para eu trazer farda – até fiz uma foto dele com a farda. Quando abriu o concurso, avisei para ele e fez a inscrição; graças a Deus passou”, relembra Souza.

Formado e inserido na corporação, Fernandes ficou cinco anos nos bombeiros da capital do estado. Depois, seguiu para Tubarão onde atuou pelo mesmo período. A primeira passagem no grupamento da cidade natal durou quatro anos, depois seguiu para Araranguá, onde ficou dez anos – com uma rápida passagem por Criciúma –, voltando para Laguna em 2016, já planejando encerrar a carreira. “Aprendi muito nesses mais de 25 anos de corporação”, reconhece.

A despedida dele da corporação, em fevereiro, aconteceu com um gesto que ele repetiu – e muito – nas formações do curso: o tradicional banho de mangueira. “Nosso chefe de socorro e coordenador do serviço voluntário fará muita falta, mas deixa pra sempre seu exemplo de conduta e abnegação. Um dos militares mais motivados de toda a corporação em SC”, disse, na ocasião, o comandante atual dos bombeiros de Laguna, tenente Henrique Schuelter (veja vídeo ao fim do texto).

Fernandes não esconde que sente saudades de vestir a farda diariamente, ainda mais em momentos como esse de enfrentamento ao coronavírus e recentemente, também, a passagem de um ciclone pela cidade. “É saudade de contribuir, de ajudar… a gente pode se aposentar, mas continua sendo bombeiro. É algo que ficamos a vida toda ali, não tem como esquecer da noite para o dia”, entrega.

Foto: Arquivo pessoal

O bombeiro formador

“Ele chegou e se mostrou uma pessoa muito proativa. Mesmo atuando em uma guarnição, no dia de folga ia ao quartel para passar instruções, montar planos de aulas para os bombeiros comunitários. Fez uma diferença na corporação de Laguna, temos boas lembranças desse grande colega de farda”, relembra o ex-comandante dos bombeiros da cidade juliana, capitão Marcos Leandro Marques, hoje, chefiando a corporação de Braço do Norte.

Esse é outro perfil de Juan Fernandes, o bombeiro-formador. Em Araranguá, ele incentivou a aproximação dos bombeiros com a comunidade, promovendo cursos como os de Bombeiro Comunitário e Bombeiros da Melhor Idade. Quando voltou para Laguna três anos atrás, trouxe na bagagem a experiência de sucesso na cidade carbonífera para implantar na terra natal.

“Tenho o recorde de formar mais de mil crianças no Projeto Golfinho”, revela Fernandes. “Os cursos de bombeiros-mirins, nós fomos pioneiros aqui em Laguna, e teve também o da melhor idade… formei 19 turmas de bombeiro comunitário e foram projetos muito bons, porque construímos amizades”, avalia.

O sentimento de gratidão também é compartilhado pelo ex-alunos. “Sempre vou lembrar dos ensinamentos aprendidos no curso. O sub-tenente Fernandes foi para nós, um ‘pai’ que sempre deu o melhor pela nossa formação, sempre dedicado e atencioso, formando vários profissionais independente da idade”, agradece a jovem Angela Livramento, uma das últimas alunas do sub-tenente no curso de bombeiros comunitários.

Foto: Arquivo pessoal

O outro lado do bombeiro

Nas horas vagas, quando pode, o subtenente pega a moto e sai por aí, desbravando as trilhas que tem na região. “É um jeito de tirar o estresse, de sentir adrenalina e isso é muito bom“, descreve, o ex-bombeiro que conta com a companhia de Sabrina, atual esposa, em alguns desses passeios, recheados de aventura.

Esse lado atleta pode ser reflexo de um ato de bravura ocorrido durante a passagem do Furacão Catrina, em que uma embarcação ficou à deriva no litoral Sul entre Imbituba e Laguna e não tinha como fazer o resgate por helicóptero. Designado para ir ao mar salvar os oito pescadores, apenas com apoio de mais um colega, em um jet-ski, Fernandes passou por apuros, mas sem abandonar a missão.

O ponto mais crítico daquele dia foi no resgate do último pescador. Debilitado pela baixa temperatura, sentia apenas alguns dedos da mão, porém conseguiu efetuar o transporte do pescador, seguro, até a faixa de areia. O ato foi reconhecido semanas depois e Fernandes foi promovido a cabo. “Foi algo que me marcou e marca até hoje”, comenta.

Sem sair para ocorrências, Juan Fernandes aproveita agora para curtir a família. Ele é pai de Carolina, 19 anos, e de Ruana, quatro anos.