Primeiro jornal diário da região era lançado há 110 anos

Com edições vespertinas, a gazeta era chamada 'A Tarde' e durou três anos.
Foto: Luís Claudio Abreu/Agora Laguna

Em um mesmo dia 1º de julho, há 110 anos, Laguna entrava novamente para a história da imprensa da região Sul com o primeiro jornal impresso com circulação diária. Com edições vespertinas, a gazeta era chamada A Tarde e durou três anos.

“Resultado de forças várias de atração e repulsão, estímulos e apatias, equilíbrio final entre o desejo ardente de labutar pelos interesses públicos e gerais, sem paixões nem cores, sem vaidades nem ambições, surge A Tarde sem programa outro, que a ardente defesa da nossa integridade social. Despretensiosa assim, só poderá ela esperar da simpatia pública, que contará com um inexpugnável baluarte erguido em sua guarda com a firmeza da esfinge e inabalável todas as vicissitudes”, diz um trecho do editorial de apresentação da folha, que surgiu com um tamanho menor em relação a outros jornais da mesma época, como O Dia e República, que eram editados na capital do estado. Ainda em 1914, aumentou de tamanho levemente.

A façanha de lançar um diário em uma cidade como Laguna coube aos irmãos Lucas e Fernando Bainha, que eram proprietários de uma oficina tipográfica na cidade com maquinários movidos a vapor. A direção foi confiada ao médico Estelita Lins, que chegou a ser delegado de polícia no município. Os irmãos Bainha eram reconhecidos em todo o estado não apenas pelos escritos críticos e enérgicos, mas também pela qualidade de suas produções impressas. Em 1922, por exemplo, lançaram a primeira revista ilustrada de Laguna: o mensário O Santelmo, voltado às belas artes e letras.

“Ter um diário representava a força que a cidade tinha não só localmente. Laguna dividia importância econômica e política com Florianópolis”, ressalta o jornalista Márcio Carneiro, editor do Jornal de Laguna e diretor regional da ACI.

Foi em A Tarde que aparecem os primeiros registros de fatos como de um esporte novo: o futebol; das notícias das movimentações das tropas na Europa e a inserção de notas sobre o cotidiano cultural, social e político da cidade. Como pioneira, a gazeta resistiu até onde pôde.

O avanço da então Grande Guerra fez elevar o custo da importação de bobinas de papel e outros insumos gráficos a cifras grandiosas. Em 30 de junho de 1917, a um dia do aniversário de três anos, o diário deixou de existir. “A imprensa diária em Laguna surgiu tardia, ‘apenas’ 53 anos depois de Florianópolis, mas morreu cedo demais. Todavia, o pioneirismo merece ser relembrado até mesmo pela garra e pela coragem que os Bainha tiveram em uma época onde nem telefone existia direito”, pontua Luís Claudio Abreu, autor de Imprensa lagunense: história(s), com previsão de lançamento para este ano.

Segundo diário

Laguna ainda voltaria a ter um jornal diário com A Cidade, lançado em março de 1925, que ficou com circulação diária até meados de 1927, e depois se tornou semanário, deixando de existir em 1935. Em 1937, chegou a ser cogitada a criação de um novo com a união que ficou chamada de Diários Associados do Sul, entre A Notícia (Joinville), A Gazeta (Florianópolis) e Diário da Noite (Curitiba). Não foi adiante.

Já a região de Laguna voltaria a acompanhar o surgimento de um diário apenas em 1994, com o jornal Diário do Sul, que completou 30 anos em abril passado. Vinte anos antes, em 1974, havia a intenção de o semanário Nosso Jornal, de Edgar Nunes, se tornar impresso diário, mas a enchente de março fez com que o plano fosse abandonado.