Incansável, Deroci de Oliveira comemora hoje 80 anos

"A Carlos Gomes é minha vida. Desde os oito anos estudo aqui dentro. Se eu disser que faltei um ensaio, vão dizer que sou mentiroso; nunca faltei, mesmo na fase difícil de 1968, quando ficaram só oito músicos", conta.
Divulgação/Carlos Gomes

É quase difícil desassociar Deroci de Oliveira da música; é como se um tivesse nascido para o outro. Em uma cidade como Laguna, que vive e respira cultura, figuras como essas têm um lugar especial na história e são presença marcante na sociedade.

Os cabelos brancos pelo avanço da idade podem supor a ideia de cansaço, mas esta é uma palavra que não faz parte do dicionário do maestro. Por muitas vezes, ela rompeu a madrugada estudando arranjos para garantir uma boa apresentações. Gestos que o acompanham desde que era aprendiz de músico no começo da década de 1950. “A Carlos Gomes é minha vida. Desde os oito anos estudo aqui dentro. Se eu disser que faltei um ensaio, vão dizer que sou mentiroso; nunca faltei, mesmo na fase difícil de 1968, quando ficaram só oito músicos”, conta.

Nascido no território que hoje forma a cidade de Pescaria Brava, filho de dona Pedra e Manoel Juvêncio, que também foi maestro da banda, Oliveira também teve passagem pela antiga Rádio Garibaldi, no Conjunto San Remo e foi ainda professor de música e técnicas iniciais na escola Adélia Cabral Varejão. No Coral Nossa Senhora dos Navegantes foi maestro por mais de três décadas. “Vivi no meio de muitos maestros, que ficavam sempre com um caderninho fazendo arranjos. Tiravam da cabeça melodias lindas, como se fosse Beethoven, Bach”, recorda.

Para chegar até o posto de líder da corporação musical, teve alguns bons exemplos, como o do maestro Bonifácio Gil, de quem guarda uma lembrança marcante. Doente, aos 82 anos, o regente deixou a batuta e se recolheu para casa. Um dia, pediu que trouxessem o jovem Deroci, a quem era muito apegado. “Quando cheguei lá, a dona Benta, sua esposa, me disse: ‘O Gil deixou para ti a caneta’. Depois, fui embora e quando estava na altura do velho Atlântico, o filho me veio dizer que o maestro havia falecido”, conta, emocionado.

A música lhe permitiu até mesmo que prestasse serviços ao circo. “Mas quando a Carlos Gomes ia tocar, não ia para o circo”, relembra. Teve a oportunidade de ir para o Rio de Janeiro com a trupe e preferiu ficar. “Teria que deixar a banda, mas eu não queria”, recorda. No auge da experiência, única mágoa de Deroci de Oliveira é ver o interesse musical desaparecer ao longo do tempo. “Tenho medo de as bandas desapareceram. Falta material humano. Os jovens hoje não querem pensar; e para música, temos de pensar”, lamenta.

E mesmo firme na regência, o maestro também se permite em algumas vezes lembrar da fase de aprendiz, como quando trocou algumas notas ao executar Saudades de Laguna. E não se intimidou, pediu desculpas ao público e recomeçou do início a canção de Pedro Raymundo. Na ocasião, era para homenagear Arão Silvino de Medeiros, que é o músico mais antigo da banda ainda vivo. Nesta sexta-feira, 23, a comemoração, porém, é para Deroci de Oliveira, que celebra seus 80 anos de vida, sendo 72 dedicados à Carlos Gomes, banda que tem a filha Bianca como presidente atualmente e os netos também envolvidos.

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