Editorial: Celeiro da boa gente, Laguna comemora 345 anos

"São felizes aqueles que tiveram a honra de nascer neste chão ou que fizeram dele seu lugar de moradia, de ganha pão. A energia, o sentimento, aqui tudo é diferente."
Foto: Elvis Palma/Agora Laguna

Todo aniversário tem uma praxe. Nós cantamos parabéns, a aniversariante sopra as velinhas, faz um pedido e reparte o bolo. Mas no teu aniversário é diferente, se quebra o protocolo. A festa é sua, mas o presente é nosso e você já vai entender o motivo.

São felizes aqueles que tiveram a honra de nascer neste chão ou que fizeram dele seu lugar de moradia, de ganha pão. A energia, o sentimento, aqui tudo é diferente.

A cada canto, a cada esquina, não se acha só mais um morador da cidade, muito pelo contrário, encontramos um amigo, um irmão e se não for de sangue, é de coração. Somos humildes e gentis por natureza. Aqui não tem hora, nem lugar, basta se aproximar e logo você vai sentir o calor humano que só se acha nesta terra. Sempre cabe mais um, é como coração de mãe.

Caminhar por suas ruas é respirar a história. É como voltar ao passado, sem nem mesmo sair do lugar, como consegues fazer isso? Não há explicação, é pura magia, assim como a Pedra do Frade – que monumento intrigante aquele. E que vista maravilhosa que só ali tem. Aliás, todo o teu litoral é fantástico, é mágico, é divino, é maravilhoso, diria Belchior. São as belezas sem par que tão alegres citamos ao cantar o seu hino.
Hino este que foi feito para ser solene, mas a letra de Osmar Cook é tão bonita, tão bela, que a gente canta e faz parecer uma poesia musicada, que te homenageia em cada verso. Ainda tens que ser mais estudada. És incrível, és mítica, és nossa.

És a esquina do Atlântico. A terra onde o sol divide imponência com a luz de um gigante Farol. Onde há engenho de farinha, aquela usada no pirão para aproveitar a tainha. Teus feitos de glória cruzam oceanos, como Anita, tua filha mais ilustre, que é bicentenária este ano. Um lugar para todos os gostos, desde o humano ao mais simpático dos botos. Lar de gente religiosa, independente de crença – não perde missa, trezena, culto, que ‘bença’.

O céu que à noite é estrelado faz feliz a astronomia, por outro lado é à noite que aproveitamos para desfrutar da tua gastronomia. Quem nasce aqui tem muita sorte, alguns até praticam esporte. Futebol, vôlei, jiujtsu, caratê, ciclismo, natação… ufa, tem de tudo aqui, até quem surfa.

Há filhos e filhas desta terra que são talentosos, escrevem poemas, poesias, livros, mas outros têm sucesso nos negócios. Tem aqueles que são da música e da arte, eles dão um show à parte. Numa cidade tão mística, há quem enverede pelo lado da política. Povo ético e educado, formou médicos e advogados. E faça chuva ou faça sol, há a importância da garra do agricultor e do pescador, mas sem esquecer, que todos nós passamos pelas mãos de um professor. Lembramos que és terra ainda das simpáticas corujas buraqueiras que não saem de suas tocas, será que beberam a água da Carioca, aquela que quem bebe sempre volta?

Dissemos estas palavras, aniversariante, para mostrar que aqui em se plantando tudo dá. Bem é verdade que tem momentos que tudo parece difícil, que nada vai dar certo, mas é preciso ter esperança. E isso o lagunense tem de sobra, tem até um bairro aqui com esse nome. Tem outro que é Progresso, que todo mundo espera que um dia você entre nessa trilha e não saia mais, que nem as trilhas do Gravatá, recheadas de butiá.

Minha Laguna, falamos aqui de tanta gente.Claro, não pudemos citar todos, afinal tu és formada – e informada – por muitas pessoas, sintam-se homenageados. Se perguntassem, quantos cabem numa só cidade, a nossa resposta seria: bem mais que os 45 mil. Pois, no DNA lagunense correm as marcas de tanta gente, que é como se fossemos um resumo dos povos que para cá vieram, e fizeram deste chão sua morada.

Os primeiros que chegaram aqui, deixaram como registro vários sambaquis. Os que vieram depois, têm alguns indícios, são os índios. Chegaram os bandeirantes e veio o povoamento da terra do céu azul, trouxeram açorianos que se espalharam por todo o Sul e até mais, afinal foi daqui que saíram os que desbravaram a Porto Alegre dos Casais.

Teve um ano, que só veio italiano. Teve uma vez, que veio até inglês. Como boa anfitriã, recebesse a gente alemã. Tem ainda os gregos que beleza; não os que vieram com o Malteza. Na terra onde tudo inspira, abraçamos o povo árabe, criador do quibe e da esfirra. Do povo africano, os costumes incorporamos. E claro, sem falar na época de verão, que tuas praias parecem um mapa mundial: tem argentino, paraguaio, uruguaio, espanhol e até gente do Nepal.

Até aqui fizemos rima, licenças poéticas e brincadeiras, para animar esta festa. Apenas para dizer que nós, teus filhos e aqueles que de longe vieram para aqui morar, hoje iremos parar por um minuto para contemplar a beleza que só você tem. Praias, história, gastronomia, cultura, religiosidade… hoje, te reverenciamos e parabenizamos, agradecidos por poder te chamar de Minha Laguna, a terra das belezas sem par.

Não fosse esse tempo difícil, estaríamos ali na praça, ouvindo uma canção, executada pela Carlos ou talvez pela União. E ela começaria dizendo ‘Parabéns para você’ e no final, a gente te aplaudiria. De pé. Com muito orgulho.

345 anos. Parabéns ao povo lagunense, que Santo Antônio dos Anjos siga abençoando esta terra.


Texto: Luís Claudio Abreu

Foto: Elvis Palma/Agora Laguna

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