Saul Ulysséa, 100 anos: ‘Me lembro do carinho que recebia’, recorda diretora nos anos 70

Ex-diretora aconselha os educandos da atualidade: “Digo a eles: estudem muito e aproveitem por ter uma boa escola, gratuita, e fácil de se matricular. Vocês têm uma escola boa”.

Os cabelos embranquecidos pela passagem do tempo conferem à professora Maria de Lourdes Goulart Barreto o símbolo nítido da experiência. Professora por 30 anos, formada nos antigos cursos normais (antecessores da formação superior), as memórias que ela guarda remetem a um tempo em que a escola de Cabeçuda começou a evoluir e muito.

Nomeada em 1971 como diretora, ela comandou o colégio no momento em que seus cursos de ensino fundamental até a 4ª série foram reconhecidos pelo governo. A escola de Cabeçuda foi onde se aposentou.
Aos 104 anos, por intermédio de sua filha, a também professora Maria de Fátima Barreto Michels, a ex-gestora conversou com a reportagem.


ESPECIAL – SAUL ULYSSÉA, 100 ANOS


“A minha primeira lembrança é das professoras que ali trabalhavam e o carinho que recebi por todas, especialmente pela professora Lilina, que na época respondia pela direção e nós fizemos uma grande amizade”, contou, ao ser questionada sobre qual a memória mais antiga ou a primeira que lhe vinha à mente ao ouvir o nome da escola de Cabeçuda.

Segundo a ex-diretora, o colégio “era muito simples”: tinha duas salas de aula, uma pequena sala para gabinete, cozinha para o preparo da sopa, uma simples biblioteca e uma horta. “Tenho memória das festas escolares do final do ano, sempre tinha uma dança, um pau de fita e fazíamos uma torta bem bonita para sorteio entre as mães.

Uma outra lembrança ainda viva é da arrecadação de fundos para o colégio. “O marido de uma professora era gaiteiro e nós fazíamos uma domingueira, para arrecadar recursos para a Caixa Escolar, que era muito pobre”.

Além do Saul, a educadora também lecionou em Imbituba e Imaruí, em uma época em que o ensino era bem diferente dos dias atuais. “Naquela época, o professor era muito respeitado, era visto como autoridade na localidade. Trabalhei em uma comunidade de pescadores, onde vivia um pessoal simples, e as crianças chegavam à escola sem saber nada, nem pegar em um lápis”, descreve.

Dona Lourdes lembra que ainda não havia a política da educação infantil, algo que, para ela, deve ser incentivado, por já iniciar a criança na trilha do conhecimento.

“Muitos pais também eram analfabetos e não tinham conhecimento para passar, o que tornava muito mais difícil o ensino. Por isso, o aluno respeitava muito o professor; hoje em dia não”, analisa.

Para finalizar, a ex-diretora aconselha os educandos da atualidade: “Digo a eles: estudem muito e aproveitem por ter uma boa escola, gratuita, e fácil de se matricular. Vocês têm uma escola boa”.


Esta matéria fez parte da edição impressa comemorativa aos cem anos da escola Saul Ulysséa, publicado no Jornal Agora Laguna.

Tal mãe, tal filha: Maria de Lourdes com Maria de Fátima. Arquivo pessoal

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