Um prédio abandonado e ocupado pelo esquecimento guarda uma história de recreação e alegria. Localizada no Campo de Fora, a estrutura inaugurada há quase cem anos, em fevereiro de 1925, era sede da Sociedade Recreativa Anita Garibaldi. Neste sábado, 30, o clube – primeira homenagem para a heroína na cidade – completa 125 anos de fundação, embora inativo há quase duas décadas. Não fosse isso, o palco hoje tomado por ruínas certamente comandaria a festa em uma animada noite em seu salão. Assista reportagem acima.
Segundo Rubén Ulysséa, em crônica de 1939, a fundação ocorreu em 1899 e seus idealizadoras foram Adolfo Veiga, Carlos Guastini e Henrique Ramos Fortes. A diretoria provisória foi formada por José Chagas (presidente), Leopoldo Miranda (vice), Adolfo Veiga (secretário), Henrique Andrade (tesoureiro), João André (procurador) e Henrique Fortes (fiscal). A última diretoria foi formada por volta de 2005.
A história do clube está registrada em páginas amareladas de jornais, mas também na lembrança de quem viveu aqueles dias. O carnavalesco João de Sousa Junior lembra algumas passagens da época em que havia disputa com o 3 de Maio, do Magalhães. “A maior rivalidade era para saber quem faria o melhor baile de Carnaval. Nos anos 60, chegaram a disputar quem terminaria a festa mais tarde – o Anita foi até perto do meio-dia e o do 3 de Maio passou disso”, conta. As folias eram famosíssimas e puxadas pelo Cordão dos Pingos de Prata. “Foi palco de grandes shows, bailes e que se destacava no Carnaval”, pontua.
Períodos de altos e baixos também rondaram o velho prédio do Campo de Fora. Após uma grande reforma em 1972, por meio de um auxílio do lagunense Colombo Salles, então governador, o clube enfrentou momentos de esquecimento, principalmente na década de 90. “Telhado, forro, banheiros, paredes já estavam bastante deteriorados”, lembra o ex-presidente Jaison Pereira, que comandou a sociedade recreativa no ano do centenário em 1999. Eventos variados foram feitos para que fundos fossem arrecadados e doações ajudaram a amortecer os custos. “Encerrando meu mandato como presidente, nova eleição foi feita e daí em diante nada mais foi feito”, lamenta.
No começo do novo milênio, houve tentativa de reergue-lo, mas sem sucesso. “Na época, o GEMT [grupo de teatro] ficou à frente porque a gente havia locado as salas ao lado, mas não tínhamos recursos para reforma. Fizemos reuniões com sócios antigos, a comunidade, com a ideia de permutar por serviços, montamos projetos e tentamos passar para outras instituições, mas não deu certo. Hoje está fechado”, comenta a atriz Cida Millezzi, presidente na última diretoria.
Paredes sujas, portas fechadas
Uma imagem aérea dá a dimensão do abandono. Quem vê de fora, enxerga apenas paredes sujas e portas fechadas, mas quando se observa de cima, é nítido o tamanho do esquecimento de uma história centenária. Para Sousa Junior, na situação atual, o Anita caminha para ter o fim que sofreu um outro clube do bairro, o 7 de Setembro. “Provavelmente vai acontecer o mesmo: só tem o terreno e algumas ruínas”, prevê.
Jaison Pereira não esconde a tristeza. “Não tenho palavras para explicar, sinto um passado morto, memórias sendo apagadas”, lastima. Apesar de tudo, ainda mantém uma esperança viva: “Que algum órgão público ou privado possa assumir, angariar fundos para uma grande reforma, use como sede e que pelo menos a centenária Sociedade Recreativa Anita Garibaldi fique ali de pé, imponente, mostrando a todos que fez história, porque hoje nos dias atuais, a nova geração já não conhece seus feitos; nem ouviram falar”.