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Veja o que foi notícia em 1864, quando circulou o primeiro jornal de Laguna

Em 1864, a comunicação na cidade era restrita às cartas, que eram enviadas e recebidas duas vezes por semana. O telégrafo, que foi a revolução comunicativa do século 19, foi instalado três anos mais tarde e o telefone só chegou em Laguna em 1916, mesma época da luz elétrica.

“Ao que parece, o nosso primeiro jornal não obedecia filiação político-partidária. Era bem redigido e melhor impresso, em formato médio e com apenas quatro páginas. Sem ser liberal nem conservador propunha-se a lutar pelas boas causas. Se não cumpriu integralmente os seus propósitos, foi mais pela exígua duração de um semestre que por culpa dos redatores, colaboradores e público leitor”, descreveu José Duarte Freitas, em artigo publicado em 1964, em O Albor.

O primeiro jornal de Laguna foi distribuído pela primeira vez em 1º de setembro de 1864 e circulou até 15 de novembro do mesmo ano. Dos seis números que foram editados, apenas cinco sobreviveram ao tempo para contar – ou melhor, relembrar – a história.

Em 1864, a comunicação na cidade era restrita às cartas, que eram enviadas e recebidas duas vezes por semana. O telégrafo, que foi a revolução comunicativa do século 19, foi instalado três anos mais tarde e o telefone só chegou em Laguna em 1916, mesma época da luz elétrica.

O trem era sonho distante. Por coincidência, a atual Ferrovia Tereza Cristina foi inaugurada também em um dia 1º de setembro, mas vinte anos mais tarde do primeiro jornal, em 1884. O transporte, então, era feito por via terrestre, a cavalo, ou por mar, por embarcações de maior porte e canoas.

Foi nesse cenário tão distante que a pioneira gazeta da cidade circulou. Com apoio da Biblioteca Pública do Estado (Bpesc), Agora Laguna resgata algumas notas e notícias que foram publicadas pela folha quinzenal O Pyrilampo, para tanto, vale lembrar a ressalva feita por Zeca Freitas: “Devemos olhar o passado, não com essa arrogância tão comum dos novatos, que se julgam mensageiros da era atômica, portadores da renovação e da reforma evolutiva, deslembrados que, em pouco tempo, serão passado também. Precisamos fazer certa justiça aos que nos antecederam na vida, que tiveram tão intensamente ou talvez mais, que muitos de nós e nos legaram, não só a genitura [sic] e os bens inventariados, mas ainda a formação moral, a sanidade de espírito, as crenças acrisoladas e o próprio processo de desenvolvimento”.

Festa em Pescaria Brava

“Teve lugar no dia 6 do mês pretérito [agosto] na freguesia da Pescaria Brava o festejo do Senhor Bom Jesus do Socorro, com a pompa devida às precárias circunstâncias do lugar”, narrou o jornal na primeira edição em 1º de setembro de 1864.

O noticiarista da época ainda informou que a festa foi abrilhantada pela Sociedade Musical Euterpe Juvenil, que tocou gratuitamente no festejo. Disse também que fora feito um dia antes, portanto em 5 de agosto, o ato de benzer a imagem de Nossa Senhora das Dores, “que às expensas de alguns devotos fora feita na Bahia para hoje espargir suas graças sobre seus humildes servos, que em concurso imploravam a sua valiosa proteção”.

Aprendizes

Na penúltima edição circulada em 1º de novembro, o jornal noticiava a alegria pela ativação da companhia de aprendizes que havia sido formada no município. Eis a notícia: “Deu-se princípio no dia 27 do passado [outubro], segundo nos consta, a admissão de menores para a companhia de aprendizes ultimamente criada nesta cidade, e já se tem apresentado à matrícula não pequeno número de meninos. A criação de uma companhia de menores nesta localidade foi uma dessas inspirações felizes, pródigas em bons resultados”.

Casamento real

Quem disse que Laguna não se interessava pelos assuntos dos membros da Família Imperial Brasileira? Vejamos a notícia publicada na edição 4, em 15 de outubro: “Deve ter lugar hoje o consórcio de S. A. Imperial a Senhora D. Isabel com S. A. o Sr. Conde d’Eu, e em breve o de S. A. Senhora D. Leopoldina com o Sr. Duque de Saxe”.

Como bons viajantes do futuro, cumprimos a missão de informar. A notícia, de fato, se confirmou: dona Isabel, que ficaria conhecida como redentora em razão da abolição da escravatura em 1888, casou-se com o conde em 15 de outubro, em cerimônia na Capela Imperial, presidida pelo bispo primaz do Brasil, dom Manuel Joaquim da Silveira.

Reabertura próxima

Foi notícia em 1º de outubro de 1864: “Conta-nos que a casa que servia de Hospital nesta cidade, acha-se concertada, e que brevemente vai se abrir de novo”.

Moléstia

“Desenvolveu-se nesta cidade a moléstia – defluxo – que tem atacado quase todos os habitantes e posto muitos de cama. Existem casas com seis a oito doentes. A causa desta epidemia supõe-se devida às copiosas chuvas que caem sem interrupção no período de um mês. No dia 5, pelas 4 e meia horas da tarde, chove grandes e abundantes pedras”, noticiou o jornal em 15 de setembro de 1864.

Duzentos a trezentos descendentes

“Foi sepultada no Cemitério desta cidade no dia 27 do mês findo, D. Joanna Maria da Conceição, natural da Cidade do Desterro, e moradora na Freguesia da Pescaria Brava, e tendo de idade 111 anos. Conta-nos descender dela duzentas a trezentas pessoas. Buscamos ver de se obtemos de algum de seus parentes uma relação minuciosa de sua descendência para transmitir aos leitores”, informou o noticiário de 1º de novembro.

Urna aberta, notícia na certa

Na quarta edição publicada, o jornal trouxe o resultado da eleição para vereadores da Câmara Municipal de Laguna. Vamos aos nomes dos eleitos: Antônio José da Silva, João Pacheco dos Reis, João de Souza Dutra, Antônio José de Bessa, Joaquim Ezequiel de Souza, Manoel José de Freitas Cardoso, João José de Figueiredo, Manoel Monteiro Cabral e Antônio José da Silva Bessa.

Apresentamos a relação dos suplentes: Luiz Pedro da Silva, Antônio Fernandes da Costa, Domingos Cardozo Duarte, Joaquim José Pinto d’Ulysséa (construtora da casa existente no largo da Carioca), Américo Antônio da Costa, José Alexandre de Araújo, João José de Souza Guimarães, Domingos Custódio de Souza (participou da proclamação da República Catarinense, em 1839) e Antônio Joaquim Teixeira.

Movimento do Porto de Laguna

Na edição número 3, o jornal trouxe o movimento do Porto, com o índice de embarcações que entraram e partiram das docas, entre 14 e 29 de setembro.

Para o Rio de Janeiro, seguiram: os patachos Wanzeller, São Manoel, Alegre, Santo Antônio e Lagunense; para portos catarinenses, viajaram: Novo São João, Nova Fortuna, Maria José, Santo Antônio, Garopaba, Sandoval, Sem Igual e Sant’Anna.

Chegaram do Rio, o patacho Gentil Americano, a sumaca Jovem Paulistana e o iate Bezerra. Vieram de portos catarinenses, a escuna Conceição de Nossa Senhora e os iates Santo Antônio, Sandoval e Maria José.