Há 175 anos, em um dia 13 de agosto como este, nascia o primeiro prefeito da história política republicana de Laguna e o único estrangeiro que ocupou o cargo em mais de 130 anos de vigência do sistema proclamado por Deodoro da Fonseca em 1889. Antônio Pinto da Costa Carneiro é nome de rua e até de escola, mas é uma figura pouco conhecida.
Nascido na localidade do Porto, em Portugal, o filho único do casal Custódio Pinto da Costa Carneiro e Rosa Dias Carneiro, veio com a família morar em Laguna por volta de 1862. Na época, a cidade juliana era um polo comercial e político de importância e atraia muitos olhares interessados em estabelecer negócios por aqui.
Antônio foi alfabetizado em primeiras letras em Desterro, no Colégio São Salvador, sendo aluno de Joaquim Peixoto Lopes, editor do jornal O Pyrilampo, o primeiro que circulou em Laguna em setembro de 1864. Lopes chegou a manter uma pequena gazeta escolar e é possível encontrar nas edições que restaram preservadas contribuições do jovem estudante, que assina como A.P.C.C.
Os estudos foram concluídos em Roma, na Itália, e posteriormente voltou a morar em solo português. Artigos escritos em velho jornais amarelados pelo tempo dizem que esse regresso ocorreu em 1875, época em que começou a colaborar ativamente na imprensa local, tendo participado de gazetas como Dez de Março.
Com a morte do pai, Custódio, veio em definitivo para o Brasil. Comerciante e dono de grande riqueza, o patriarca Carneiro deixou a herança para o filho que se tornou um dos mais ricos da cidade e ficou marcado pelo gesto de ter alforriado todos seus escravos como parte do testamento que assinara pouco antes de falecer.
Em 1879, foi naturalizado e passou a ser elegível perante as leis de então. Filiado ao Partido Conservador, aderiu ao movimento republicano tão logo houve a proclamação e a adesão de Santa Catarina ao novo regime em 17 de novembro de 1889. Com as modificações políticas de então, foi candidato para uma vaga como deputado constituinte e participou da elaboração da primeira carta constitucional catarinense em 1891 e mais, foi eleito para o posto de superintendente municipal, cargo que hoje é equivalente ao de prefeito.
As turbulências políticas vividas nos primeiros anos da última década dos anos 1800, com os levantes federalistas, atrasaram em alguns anos o início do mandato de Costa Carneiro, o que só foi efetivar em agosto de 1894, portando há exatos 130 anos.
O governo do coronel ficou marcado por obras importantes como a organização do Cemitério da Paz e do Instituto Municipal de Educação, cuja sede ficava no imóvel que hoje é a ‘casa’ da Biblioteca Pública Municipal Professor Romeu Ulysséa. Fato marcante e mais significativo, foi a construção do primeiro Mercado Público, inaugurado em janeiro de 1897 e destruído por um incêndio nunca esclarecido na década de 1930.
Politicamente, o coronel Costa Carneiro seria reeleito prefeito até 1906 e manteve a cadeira de deputado estadual até 1908, exceto por um período em 1904, quando a votação foi depurada, isto é, não reconhecida. No jornalismo, fundou os jornais republicanos Democracia (1889-90) e O Futuro (1891-1901), e auxiliou no primeiros anos da gazeta O Albor, que viria a ser o mais histórico e importante veículo de imprensa da cidade juliana no século passado.
Era comendador pela Ordem de Conceição da Vila Viçosa (Porto) e coronel honorário do Exército, nomeado pelo marechal Floriano Peixoto. Foi um dos primeiros lagunenses a professar a doutrina espírita, sendo fundador do círculo Amor e Fé em 1904, antecessor do atual Centro Fé, Amor e Caridade. Foi casado com Maria Isabel Arantes Carneiro, com quem teve os filhos Álvaro e Octávio, e com Maria Isabel da Cunha Carneiro, vindo os filhos: Edgar, Mário, Jorge, Sylvio, Carmen, Maria Isabel, Lauro e Lúcio.
Antônio Pinto da Costa Carneiro morreu em 15 de agosto de 1908, apenas dois dias após completar 59 anos. No Parlamento estadual, foi substituído pelo deputado-tampão José Johanny, lagunense que era advogado e jornalista. A morte foi amplamente lamentada na sociedade da época. Laguna lhe concedeu como homenagem a nomeação de uma rua no Mar Grosso em 1919 e o Estado o designou como patrono de uma escola em Orleans.