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Relembre a trajetória de Deyvisonn, prefeito eleito por um voto e primeiro a renunciar

Preso em dezembro do ano passado, ainda na primeira fase da Operação Mensageiro, Deyvisonn Souza renunciou ao mandato nesta terça-feira, 11.
Divulgação/PMPB

Deyvisonn de Souza (MDB) entrou para a história política brasileira como um dos raros prefeitos que se elegem por um voto de diferença do adversário, uma cena tão incomum quanto à da eleição que termina empatada. Mais de seis anos depois daquela vitória, o político de 48 anos vê um cenário diferente. Reeleito para um segundo mandato com a preferência de 73% do eleitorado, se despede da prefeitura de Pescaria Brava estando afastado da cadeira com a qual sempre sonhou e preso em uma investigação que levou à cadeira outros 15 prefeitos e abalou o mundo político catarinense com quatro operações em seis meses.

A base desta reportagem tem informações de uma entrevista concedida pelo agora ex-prefeito ao Portal Agora Laguna nas vésperas de sua posse para um segundo mandato. Era dezembro e Souza passava os últimos dias do ano com a família em seu endereço residencial na cidade de Laguna. Naquela conversa, o chefe de Executivo ainda cultivava os louros de uma vitória larga, a maior em proporção na região – superior a de Joares Ponticelli (PP) e Caio Tokarski (União), cujos destinos se entrelaçaram com o do emedebista de Pescaria Brava.

Natural de Tubarão, mas desde as primeiras horas de vida morador bravense, Deyvisonn Souza nasceu em 9 de julho de 1975, sendo filho de Solange de Souza e Lázaro de Souza – o seo Lazinho, como era mais conhecido, irá emprestar seu nome para o ginásio de esportes em Taquaraçu, conforme projeto aprovado em junho passado.

Quando adolescente, queria ser padre e foi aluno do seminário de Tubarão. As dificuldades financeiras impediram-no de seguir adiante na vida religiosa. “Foi uma experiência muito boa; o seminário ensina o menino, no bom sentido, a ser homem e muito do que aplico hoje em minha vida é fruto da minha passagem por lá”, recordou na entrevista.

O jovem morador da Estiva teve seu primeiro contato com o meio político ao conversar com o então deputado Edson Bez de Oliveira, o Edinho Bez (MDB), que lhe empregou em seu gabinete. “Depois me elegi vereador em Laguna, primeira vez como o mais votado, e me reelegi aumentando os votos. Fiz votação em todas as urnas, só no Perrixil que não. E surpreendeu pois não era muito conhecido em Laguna, só no distrito e fiz 1.937 votos”, contou, em dezembro de 2020.

Depois de sair da vereança, onde alcançou a presidência da Câmara, montou o gabinete do ex-deputado Ronaldo Benedet (MDB), em Brasília, e chegou a administrar o Terminal Pesqueiro em Laguna. Pescaria Brava, porém, nunca saiu do radar de Souza. Um dos defensores da emancipação do distrito mais antigo do Sul, acalentava o sonho de ser candidato a prefeito, desejo que era compartilhado pelos dirigentes do então PMDB de Santa Catarina – entre eles, o ex-governador Luiz Henrique da Silveira, morto há cinco anos.

O distrito virou município em 2003, mas a lei de regulamentação saiu em 2008, com a previsão de que a primeira eleição ocorresse em 2012. “Aquela eleição que a gente perdeu foi um ensinamento”, ressaltou. Quatro depois, a nova tentativa e a repercussão nacional: a diferença de votos entre ele e o ex-prefeito Antônio Honorato (PSDB) foi de apenas um voto. Se deu uma polêmica em volta disso tudo, afinal havia acusação de que teria sido registrada a votação de um eleitor já falecido. A Justiça, posteriormente, anulou a votação da polêmica urna, mas o resultado se manteve favorável ao emedebista. “Isso acabou dando uma mídia muito positiva”, diz.

Enfrentando a pandemia e concorrendo à reeleição, o emedebista foi credenciado pelo município para comandar os destinos da cidade por mais quatro anos, tendo como vice Lourival Izidoro (PP), com quem demonstrou ter uma boa relação e cuja principal missão daqui para frente será a de guiar Pescaria Brava.  “Provamos que vale a pena ser sério, que vale a pena acordar cedo. Trouxemos o desenvolvimento que tanto sonhamos quando emancipamos este lugar”, falou o então prefeito na época, ao avaliar o primeiro mandato e a vitória que lhe alçaram para ser presidente da Associação dos Municípios da Região da Amurel (Amurel), gerindo o colegiado de 18 cidades pelo período de um ano.

Antes de ser preso, Souza declarou em entrevista que não almejava uma cadeira de deputado estadual ao fim do mandato como prefeito reeleito. Queria continuar na cadeira, mas na prefeitura de Laguna. O gesto, chamado de “prefeito itinerante”, é proibido pela legislação, mas isso não seria impedimento: estudava meios de garantir que a candidatura fosse viável e já começava algumas conversas com políticos de atuação estadual.

A vontade ficou em segundo plano em 6 de dezembro de 2022. Um dia antes, havia embarcado para Brasília (DF) com a justificativa de estar em agenda oficial. Foi preso por agentes do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, na primeira fase da Operação Mensageiro, que apura um complexo esquema de corrupção no setor de coleta e destinação final do lixo em Santa Catarina. Souza já teve quase uma dezena de pedidos de liberdade negado e espera que a renúncia, além de enviar todo o seu processo para a Justiça de Laguna, faça com que a saída do Presídio Santa Augusta, em Criciúma, seja agilizada.