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Para homenagear Pedro Raymundo, Câmara quer excluir Archimedes Faria da ‘praça do mosaico’

Se for mantida, tentativa de homenagem ao músico, proposta às pressas, deve ser ratificada na sessão solene de quinta-feira, 28. Atual homenagem a Archimedes Faria foi feita em 2010, no ano de seu centenário – também em sessão solene.
Foto: Elvis Palma, sobre imagens de arquivo/Agora Laguna

Pedro Raymundo pode virar nome de praça em Laguna no mês em que passam os 50 anos de sua morte. Com tramitação veloz e inserida na pauta antes da sessão de segunda-feira, 24, a Câmara de Vereadores deu o primeiro aval para que o município possa trocar a denominação da praça Archimedes Faria, no Mar Grosso, para receber o nome do músico imauriense, célebre por Saudades de Laguna Adeus Mariana. A proposta, porém, não foi bem recebida pela família Castro Faria.

A praça em questão é a localizada entre as ruas Aurélio Rotolo e Luiz Severino Duarte e a avenida Maurílio Kfouri, famosa por ser a área em que foi instalada a intervenção artística Fontreira/Fonte/Foz, de Carmela Gross, em 2001, em mosaico de petit-pavé. A denominação atual foi feita em 2010, por ocasião do centenário de nascimento de Castro Faria, ano em que também foi lançado o livro Na terra dos homens, que reúne seus escritos. Na época, a iniciativa partiu do vereador Eduardo Nacif Carneiro (União Brasil), atualmente integrante da legislatura vigente.

O projeto foi apresentado pelo vereador Hirã Ramos (MDB), presidente da Casa, e foi colocado em votação para dar tempo de a segunda votação ocorrer na quinta-feira, 28, durante a sessão solene que homenageará o cantor e compositor. Na justificativa, em texto genérico, o edil diz “que a presente proposição segue todos os requisitos legais. Desta forma, nada mais justo, o atendimento da presente proposição”. A proposta não apresenta, por exemplo, uma mudança de homenagem para que Castro Faria denomine outro logradouro público, como já ocorreu ; e não se trata de modificação para substituir duplicidade como lembranças a Paulo Carneiro e Francisco Pinho, que emprestam seus nomes para vias e praças.

O primeiro aval foi dado por nove vereadores (Anderson Silveira de Souza (PSDB); Edi Goulart Nunes (PSD); Gustavo Cypriano (União); Jaleel Farias (PSDB); Luiz Otávio Pereira (União); Patrick Mattos (MDB); Rodrigo Bento (PL); Deise Cardoso (MDB); e Rhoomening Rodrigues (PSDB)). Apenas dois edis votaram contra: Eduardo Carneiro e Nádia Tasso (União). Autor do projeto, Hirã Ramos só vota em desempate, e o vereador Kleber Lopes (União) se ausentou durante a sessão por razões médicas.

Proposta não agrada família de Castro Faria

Archimedes de Castro Faria era natural do Rio de Janeiro e se mudou para Laguna em 1943. Aqui, foi comerciante, vereador, atuou na administração do porto e, dono de uma mente criativa, colaborou com jornais como Semanário de Notícias O Albor, além da Rádio Difusora, em seus primeiros anos de atividade. É dele, por exemplo, a autoria do hino do Coral Santo Antônio dos Anjos, considerado como um hino informal do município, por falar da cidade de uma forma poética (Laguna, terra querida / Celeiro de boa gente).

Para o empreendedor e ex-vereador Marcos Faria, a ideia de homenagear Pedro Raymundo é válida, mas mudar uma denominação de praça e excluir uma lembrança antiga é questionável. “Que isso não se faça apagando a história da própria cidade e a memória de um dos seus ilustres moradores”, diz ele, em nota feita em nome de seus familiares. “A família pede respeito ao legado do Sr. Archimedes e à própria história de Laguna”, pontua. Leia íntegra abaixo.

O vereador Eduardo Carneiro garante que vai tentar mudar o projeto e evitar a perda da homenagem proposta 13 anos atrás, “com ampla aceitação da sociedade civil” e igualmente em uma sessão solene – assista aqui ao vídeo comemorativo publicado na época. “Se a intenção do propositor é homenagear Pedro Raymundo com nome de uma praça ou de uma rua, deveria ter indicado outro local. Ainda vou apelar ao presidente para que possamos redirecionar a homenagem ao Pedro. Não podemos simplesmente rasgar a história do seu Archimedes”, comenta o político.

A família de Pedro Raymundo também foi procurada, mas prefere não comentar o assunto. Essa não será a primeira vez que ele dará nome a um logradouro na cidade. Em 1980, seu nome foi indicado para nomear uma rua no bairro Mato Alto, conforme lei sancionada pelo então prefeito Mário Remor (1977-1982). Numa eventual aprovação, a prefeitura deve vetar a proposta, segundo informou o prefeito Samir Ahmad (sem partido).

Leia nota da família Castro Faria

“A Família Castro Faria, com espanto e incrédula, recebeu a notícia do projeto que altera o nome da Praça Archimedes de Castro Faria, no Mar Grosso. Na cidade que escolheu para viver, constituiu numerosa família e contribuiu para o seu desenvolvimento como tesoureiro do Porto, vereador, comerciante, radialista, colaborador de jornais e escritor.

É o autor da letra do Hino do Coral Santo Antônio dos Anjos – sempre executada em suas apresentações. A parceria com o maestro José Acácio Santana rendeu uma das mais belas homenagens à cidade: “Laguna, terra querida, celeiro de boa gente, tu trazes no peito, a vida, a alma de um continente”. Quem não lembra dela nas novenas de Santo Antônio? Sem dúvida, um intelectual e uma das figuras mais cultas, respeitadas e queridas por todos, que empresta seu nome à Praça há apenas 13 anos.

Que Pedro Raymundo merece uma honraria dos lagunenses, não há dúvida, mas que isso não se faça apagando a história da própria cidade e a memória de um dos seus ilustres moradores. A homenagem recebida em 2010 fez parte das comemorações dos 100 anos de seu nascimento, quando seus filhos, netos e bisnetos lançaram seu livro póstumo “Na Terra dos Homens”, com sessão na mesma Câmara que agora tenciona retirar-lhe a distinção então outorgada. Na parte festiva do centenário, o Coral executou seu hino em homenagem a Archimedes, com regência do saudoso maestro Antônio Herdt, que, convidado, fez questão de honrar a amizade de décadas que os unia. A Família Castro Faria pede respeito ao legado do Sr. Archimedes e à própria história de Laguna.”