Estamos a poucas horas do novo ano que se aproxima e com ele é hora de tirar as roupas coloridas conforme seu desejo (branco para paz, amarelo para dinheiro e assim vai), fazer aquelas promessas que nem sempre se cumprem, e seguir algumas tradições para que a chegada de 2023 seja positiva.
Um desses costumes tradicionais da virada de ano envolve as lentilhas. A colher cheia do grão faz parte da ceia da meia-noite, sendo considerada no passado como prato de pessoas de origem simples até começar a fazer parte da alimentação das cozinhas finas da Europa por volta do século 18, embora tenha registros de sua existência há mais de 13 mil anos. Segundo o chefe de cozinha Arthur Remor, o Brasil é mais entusiasta da soja, uma prima da lentilha, mas ano após ano tem aumentado a importação dela.
“A versão que mais sustenta a relação da lentilha com a sorte, fortuna, vem da citação dela na Bíblia em Gênesis, capítulo 25, versículos 29-34: ‘Esaú abriu mão do seu direito a primogenitura a Jacó por um prato de lentilhas (um guizado de lentilha), dizendo: ‘Estou morrendo de fome e não faço questão desse direito’. Jacó teve sorte na vida, o que pode ter gerado a relação do grão a riqueza. Existem outras relações à riqueza, como o formato dela lembrar moedas, remetendo a riqueza”, explica o profissional.
Remor, porém, defende a lentilha não só pelo lado cultural, mas pelas propriedades nutricionais. “Além de ter baixa caloria, ela ajuda a desintoxicar o corpo, na redução de colesterol, fortalece os ossos, previne a anemia, muitas vezes sendo usada ao invés do feijão como uma variação saborosa, fortalece o sistema imune, e até melhora no humor devido a combinação de vitaminas presentes”, comenta. Na ceia que marca o Ano-Novo também não pode faltar a uva, repetição de uma antiga crença popular espanhola, do século 19, onde se comia uma uva para cada badalada do sino na virada. A tradição “manda” que se mentalize um desejo para cada mês do ano e aí se coma uma das uvas para cada pedido.
Sete ondas
À meia-noite também é costume pular sete ondas do mar, uma tradição herdada das homenagens à Iemanjá, a rainha do mar, nas religiões de matriz africana. Eram feitas no dia 2 de fevereiro, data consagrada a ela, e depois foram trazidas também para o último dia do ano.
“A tradição desta prática é se conectar com os orixás das Sete Linhas de Umbanda. Ao pular as sete ondas invocar em cada uma o orixá das sete linhas fazendo seus pedidos para atrair boa sorte e desejar coisas boas para o ano que entrará. As águas da ‘virada’ tem forças benéficas trazidas por Iemanjá”, explica o babalorixá Fabrício Santos. Os orixás das Sete Linhas variam para cada vertente umbandista seguida.
Em matéria de costumes, há quem siga ainda a prática dos banhos energéticos com ervas e folhas na noite de 31 ou no alvorecer do dia 1º. Tradição que vem desde o Egito com os registros mais antigos das manias da rainha Cleópatra, o gesto foi difundido no Brasil entre os umbandistas e candomblecistas.