Editorial: Laguna precisa rever suas homenagens

"Não se questiona a relevância das pessoas que o receberam, independente do lugar de seu nascimento, mas a sociedade lagunense questiona a necessidade de se conceder o título a pessoas que ainda nem pisaram na cidade, que poucas vezes voltaram ao município ou que até já se esqueceram do tal título".
Foto: Peterson Paul/Secom Governo SC

O ODONTÓLOGO MÁRCIO RODRIGUES FOI vereador nos anos 70, época em que o cargo não era remunerado. Na sua experiência como legislador, das muitas discussões no plenário que lhe marcaram a memória, uma por muito tempo ficou latente. Os seus pares negaram, por maioria dos votos, a concessão da honraria de cidadã de Laguna à Haydée Monteiro, que não havia medido esforços para que a Apae da cidade saísse do papel e foi sua primeira presidente. A votação foi considerada uma injustiça já que a entidade começava a fazer relevantes serviços.

O título de Cidadão Lagunense não é novo. É velho. Os mais antigos registros disponíveis para consulta do público são da década de 1960. É uma honraria digna, mas alguns de seus agraciados são realmente dignos de tais honrarias? A ausência de critérios claros, restrita à apenas a batida e genérica intenção de “homenagear pelos relevantes feitos”, fez com que a homenagem se tornasse um papel banal.

Não se questiona a relevância das pessoas que o receberam, independente do lugar de seu nascimento, mas a sociedade lagunense questiona a necessidade de se conceder o título a pessoas que ainda nem pisaram na cidade, que poucas vezes voltaram ao município ou que até já se esqueceram do tal título.

A ideia de agraciar os beneméritos é válida, contudo a cidade precisa rever urgentemente as suas honrarias e criar critérios mais específicos. E se a cidadania for um passaporte para a vinda de personalidades, pode se definir um novo título para isso. Quem sabe reaproveitar o “Amigo de Laguna”, que existiu só no aniversário da cidade em 2019; ou desenvolver o “Lagunense por um dia”, que se enquadra perfeitamente para alguns dos homenageados nas últimas duas décadas.

A cidade também precisa rever quem merece suas homenagens. Muitos que aqui vieram morar e prestar serviços à comunidade, sequer são reconhecidos. Algumas pessoas que Laguna abraçou partiram e não foram lembradas em vida. Quando muito viraram nome de rua — homenagem que se faz depois que a pessoa falece. É hora de marcar um gol, e revisar os conceitos das honrarias. Uma rua é só passagem; o título vale para a eternidade.