Duas obras que jogam luz na biografia de duas personalidades negras de Santa Catarina – Antonieta de Barros e Ildefonso Juvenal da Silva – serão lançadas, na tarde deste sábado, 27, durante a programação da 4ª Semana da Consciência Negra de Laguna. O evento, marcado para 15h, ocorre em um local simbólico, o Clube União Operária, que tem sido palco das várias atividades culturais para ressaltar a presença negra na cidade juliana e a importância destes povos para a formação da sociedade e seus costumes.
Ildefonso Juvenal (1894-1965) foi uma figura importante para a cultua literária catarinense e em sua trajetória é destacado por ter ajudado na superação de estigmas que mantinham os negros à margem social, assim como na luta pelo combate à discriminação racial e preconceitos. Ao longo de sua carreira, publicou 17 obras com contos, poesia e teatro, e escreveu crônicas e artigos para inúmeros jornais de época como Folha Rosea e O Acadêmico, editados na Florianópolis do século 20.
“A contribuição de Ildefonso Juvenal para a história de Santa Catarina é incomensurável, sendo ela fundamental para a compreensão das estratégias e sociabilidades desenvolvidas pela população negra no pós-abolição”, avalia o escritor Fábio Garcia, organizador da obra.
Ildefonso Juvenal da Silva: um memorialista negro no Sul do Brasil (Cruz e Souza) traz 90 artigos em 448 páginas. “Nos ajuda a reconstruir a história do Sul do Brasil, vista sob a ótica de um intelectual negro. Algo até pouco tempo atrás impensável na historiografia catarinense. Devemos adicionar também que Juvenal ilumina diversas passagens da luta do povo negro ao longo do século 19 e 20 das quais tínhamos poucas fontes.”, pontua. O livro é vendido a R$ 65 e pode ser comprado no evento de lançamento ou neste site.
O outro livro que será lançado em Laguna é Antonieta de Barros: professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil. Escrito pela professora e pesquisadora Jeruse Romão, a obra foge do estigma padrão de ela ter sido a primeira parlamentar na história legislativa barriga-verde e busca um ângulo mais humanizado da biografia desta pioneira.
“Não trago no livro Antonieta a partir da deputada, lugar pelo qual ela é mais conhecida, mas trago ela a partir de seu núcleo familiar, a partir das experiências e vivências da sua mãe, pai, irmãos e irmã. É um resgate necessário, pois a história traz a pessoa de uma forma individualizada e é pouco conhecida a trajetória da família”, revela a escritora. Os ativismos na área da cultura, na imprensa, na educação são destacados.
Laguna é citada no livro, através da experiência da professora Júlia Nascimento, negra, que fundou uma escola de ensino no século 20.
A admiração por Antonieta vem desde criança, segundo Jeruse. “Antonieta sempre fez parte do meu universo”, conta. Para a pesquisadora, a biografia da pioneira é incontornável para se compreender a história do estado. “Ela é uma mulher negra catarinense referência, hoje, para todo o país e é celebrada em muitas regiões. É importantíssimo que as pessoas entendam que na década de 30, ela já falava sobre direitos para as mulheres, professoras, educação e que a civilização avançava, mas os direitos sociais ficavam distante disso”.
O livro custa R$ 60 e pode ser comprado no evento ou pelo e-mail mariadailha50@gmail.com. Maria da Ilha era o pseudônimo de Antonieta de Barros e seus escritos. Ambos os autores farão uma palestra no dia.
