Cientistas lagunenses desenvolvem pesquisas que podem ajudar na prevenção ao Alzheimer

Doença neurodegenerativa ainda sem cura, o mal de Alzheimer foi diagnosticado pela medicina moderna no começo do século 20 e segue como um incógnita. A causa, diagnóstico e tratamento nem sempre têm a precisão necessária. Por isso, esta terça-feira, 21, simbolicamente é lembrada como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, uma forma de conscientizar sobre a doença. A previsão da Alzheimer’s Disease International é que o número de acometidos chegue a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.
Bárbara Rita (E) e Maíra Bicca (D): lagunenses desenvolvem pesquisas junto à comunidade científica internacional. Fotos: Arquivo pessoal

Estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Queensland (Austrália), apontou que cerca de um milhão de brasileiros são afetados por algum grau de demência, sendo que a maioria sofre de doença de Alzheimer. A pesquisa é de abril deste ano e prevê que nos próximos trinta anos esse número quadruplique.

Doença neurodegenerativa ainda sem cura, o mal de Alzheimer foi diagnosticado pela medicina moderna no começo do século 20 e segue como uma incógnita. A causa, diagnóstico e tratamento nem sempre têm a precisão necessária. Por isso, esta terça-feira, 21, simbolicamente é lembrada como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, uma forma de conscientizar sobre a doença – o mês também pode ser chamado de Setembro Roxo, em virtude disto. A previsão da Alzheimer’s Disease International é que o número de acometidos chegue a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.

Nessa tentativa de desenvolver métodos mais eficazes que ajudem na prevenção e detectar padrões que permitam à medicina avançar na prevenção e tratamento, estão duas pesquisas desenvolvidas por cientistas lagunenses.

Bárbara Rita Cardoso é doutora em nutrição formada pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente integra a Universidade Monash, em Melbourne (Austrália). Há quatorze anos, durante o início dos estudos para um mestrado, começou a pesquisar a relação do selênio e o Alzheimer. “Pouco se sabia sobre esse nutriente, e muito menos o quanto ele era importante para a prevenção do Alzheimer. Isso despertou minha curiosidade e fez com que eu me apaixonasse pelo tema”, justifica a pesquisadora.

A investigação científica iniciada por ela apontou que a deficiência do selênio era comum em pacientes acometidos pela doença. Segundo a cientista, foi detectado que o consumo diário de uma castanha-do-brasil (também conhecida como castanha-do-pará) auxiliava idosos com mais propensão ao Alzheimer a manterem suas funções cognitivas (percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas). “Porém, minhas pesquisas mais recentes mostram que selênio demasiado  também pode ser prejudicial pra outras doenças, então vale a pena reforçar que não há necessidade em se consumir mais que uma castanha por dia”, orienta Bárbara.

As pesquisas sobre a relação do selênio e outras doenças crônicas, garante a pesquisadora, continuam. “Objetivo agora é entender quanto de selênio deve ser consumido pra otimizar a saúde em diferentes aspectos. O estudo com castanha-do-brasil, me despertou o interesse pelas outras castanhas também, e hoje foco não somente na castanha-do-brasil, mas em como as castanhas em geral podem reduzir o risco de doenças crônicas como demências, diabetes e doença hepática gordurosa não alcoólica”.

Outro estudo científico foi desenvolvido por Maíra Assunção Bicca. A lagunense é doutora em Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e compõe o Departamento de Neurocirurgia da Escola de Medicina da Johns Hopkins School of Medicine, em Baltimore (EUA). “Sempre fui fascinada por como o cérebro funciona”, conta. As pesquisas envolvendo o mal de Alzheimer foram motivadas, explica, por duas razões. “Pessoal, visto que membros da família eram afetados pela doença, e ainda, por significância e relevância para a sociedade, já que o Alzheimer é a doença neurodegenerativa que mais afeta idosos, não tem diagnóstico certeiro, cura, ou tratamento efetivo”.

Maíra também desenvolve pesquisas há 14 anos na área. Suas pesquisas, atualmente, se desenvolvem em dois campos. A primeira usa modelos animais como ensaio pré-clínico para avaliar a fabricação de uma sonda que detecte a formação da doença em seus estágios iniciais, permitindo maior tempo para tratamento. Já a segunda, em humanos, analisa a efetividade do tratamento com extratos da planta Cannabis para impedir a progressão da doença, com melhora nos sintomas de memória e funcionamento das atividades do dia-a-dia, além de melhorar o sono, o humor e a ansiedade. As análises já estão em processo de revisão para publicação por revistas internacionais especializadas.

“O estudo de ensaio pré-clínico foi recentemente financiado por uma indústria, para a fabricação da sonda, e assim, para que se possa dar início aos ensaios clínicos, em humanos. As expectativas de atingir o grande público são de aproximadamente 5 anos”, descreve a cientista. Já o outro estudo tem previsão de ter dados em um ano, mas os benefícios vão depender da atualização da medicina e a regulamentação de uso da Cannabis, de forma legal no Brasil. “As pesquisas que realizamos são em dois pontos chaves, para tentar diagnosticar a doença de forma correta e mais precisamente numa fase mais inicial, em que os sintomas ainda não são tão evidentes, e portanto, a morte dos neurônios também não; e pata tentar tratar a doença da forma mais natural possível, com melhoras dos sintomas principais e secundários, e o mínimo de efeitos adversos possível”, pontua.

As pesquisas desenvolvidas pelas duas lagunenses já foram reconhecidas em prêmios científicos nacionais. Bárbara se destacou em 2015 ao vencer o Jovem Cientista, na categoria tese/dissertação, com o estudo do selênio e o mal de Alzheimer. A premiação lhe foi entregue, na época, pela então presidente Dilma Rousseff (PT, 2011-2016). E Maíra foi agraciada com o prêmio Jovem Talento para Ciências da Vida, concedido pela Sociedade Brasileira de Bioquímica (SBBq), pela investigação científica que detectou a proteína que pode ajudar a diagnosticar a doença.

Alzheimer

Idosos com 65 anos ou mais tendem a ser os mais atingidos pela doença que provoca neurodegeneração e causa perda das funções cognitivas, em especial a memória. Isso faz com que a pessoa esqueça coisas simples como nomes a informações básicas, como, por exemplo, o caminho para voltar para casa. O alerta costuma surgir quando esses lapsos começam a interferir no cotidiano ao se tornarem repetitivos.

Ainda não foi descoberto o que provoca a doença, mas há estudos que apontam que hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, sedentarismo e obesidade favorecem o aparecimento de doenças como o Alzheimer. Medicamentos são usados para tentar estabilizar ou reduzir a progressão da patologia, mas ainda não há um tratamento eficaz para ela e os remédios ajudam a proporcionar um alívio ao paciente.

“O Alzheimer é a sétima doença numa lista de 10 doenças que mais matam no mundo e que inclui, doenças cardíacas, câncer e diabetes. Dentre todas as doenças da lista, é a única que não tem diagnóstico certeiro em vida, tratamento efetivo que impeça a progressão da doença e está longe de ter uma cura”, observa Maíra.

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