Caso Diego Scott completa três meses sem solução

O morador do bairro Progresso está desaparecido desde a tarde do dia 15 de janeiro, quando se envolveu em uma discussão familiar em sua residência. Investigações e buscas foram realizadas nesse período, mas não há uma solução que ajude a chegar ao seu paradeiro.
Arquivo pessoal

Três meses. Esse é o tempo da angústia vivido pela família do ex-jogador de futebol, Diego Bastos Scott, 39 anos. O morador do bairro Progresso está desaparecido desde a tarde do dia 15 de janeiro, quando se envolveu em uma discussão familiar em sua residência. Investigações e buscas foram realizadas nesse período, mas não há uma solução que ajude a chegar ao seu paradeiro.

Diego teve uma discussão com o pai, o também ex-jogador Edson Scott, 70, e a Polícia Militar (PM) foi acionada para apartar a situação. A guarnição chegou, conversou com ambos e o colocou dentro da viatura para afastá-lo dali. Esse foi o ponto que mais revoltou a família. No boletim de ocorrência consta que Diego não estava ali, mas uma câmera de segurança de um imóvel próximo registrou o momento em que ele foi posto no veículo policial.

Diante do sumiço do marido, Alexsandra Joaquim, 41, começou a buscar informações junto ao 28º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Naquele mesmo final de semana, tentativas de localizá-lo foram feitas, mas sem sucesso. Um processo interno foi aberto para apurar as circunstâncias em que o atendimento à ocorrência na residência foi realizado. Em um primeiro momento, a dupla de policiais (um lotado em Laguna e outro, em Tubarão, que atuou na operação Verão) manteve a versão que o homem não estava no local. Confrontados com o vídeo, admitiram que tinham levado Diego até uma área deserta do Loteamento Laguna Internacional.

Nesse ponto indicado pelos agentes, buscas foram feitas pela polícia, pela família e, inclusive, um cão farejador da PM de Joinville foi colocado em atuação na esperança de encontrar algum vestígio que ajudasse a chegar no paradeiro de Diego. Uma piscina desativada em um camping antigo do loteamento, ainda cheia de água, foi esvaziada. Havia a informação que o corpo do ex-jogador de futebol pudesse ter sido deixado no local, mas nada foi encontrado, a não ser jacarés-de-papo-amarelo.

Quase 60 dias depois do desaparecimento, no início de março, as polícias Militar e Civil concluíramos as investigações dos inquéritos montados para apurar a situação. A Civil terminou por não indiciar ninguém, e a PM, que também fez sua análise da situação, registrou que não houve elementos comprobatórios que indicasse a morte do desaparecido. A capitã Cíntia Leandro relatou na conclusão que há indícios, porém, de crimes de ordem militar e para transgressão disciplinar:

  • Os dois policiais deixaram de fazer o procedimento criminal relativo a Diego Bastos Scott em face da lesão corporal praticada contra seu pai, ao encontrá-lo logo após o crime na esquina da residência, tendo conduzido e o privado de sua liberdade em desacordo com as hipóteses legais, descumprindo normas internas da PM e violando previsões estatutárias.
  • Indicativo de transgressão de um policial por não ter utilizado corretamente a câmera do fardamento em conformidade com o procedimento operacional padrão em vigor e demais normas internas da corporação, desligando-a manualmente às 10h48 do dia 15 de janeiro 2021, com 75% de carga de bateria, conforme relatório com informações de bateria e utilização da câmera policial. No depoimento, é citado que o equipamento estava sem bateria.

Nesse meio tempo, os policiais militares envolvidos no caso foram afastados das funções duas semanas depois do desaparecimento e tiveram a prisão preventiva decretada em 15 de fevereiro. Com as conclusões do inquérito, o juiz da Vara Militar de Florianópolis, João Batista Ocampo Moré, revogou as prisões, mas os manteve longe do expediente policial. Apenas no início deste mês é que eles foram autorizados a retornar às atividades na corporação militar. Segundo apurado junto à PM, o policial do Batalhão de Laguna apresentou licença médica e ficará longe do quartel por 90 dias, pelo menos.

Protesto foi realizado no fórum – Foto: Elvis Palma/Agora Laguna

Esposa denuncia ameaça e diz que filho sente muita falta do pai

Em entrevista à Rádio Difusora e confirmada ao Portal, Alexandra relatou que amigos, familiares e até o advogado estão recebendo ameaças. “Um irmão dele, o nosso advogado já sofreram ameaças. É sem explicação”, disse à emissora, durante o Jornal da Manhã, desta quinta-feira. Ela detalha que Rafael Scott, irmão, teria sido coagido a evitar de se manifestar em redes sociais e que um carro teria parado em frente à casa do defensor e de uma amiga, fazendo movimentações suspeitas.

A esposa de Diego, apesar de ter sido explicado que é normal haver presença policial nas ruas, diz que se sente perseguida, pois onde vai, há uma viatura no local. “Em todo lugar que eu saio para fazer volta, sempre avisto um carro da polícia e isso está incomodando muito”. “A gente vive um pesadelo, sem respostas, sem saber o que realmente aconteceu naquele dia e a cada dia que passa, o sofrimento aumenta mais”, lamentou.

Ainda na entrevista à emissora, ela relatou que o filho do casal, Miguel, 8, tem sido um dos familiares que mais demonstra sentir falta do pai. De acordo com a mãe, começou a apresentar mudança comportamental e ela, por temer que ocorra algo, não tem mais deixado ele brincar na rua, assim como também passará a levá-lo para ter consultas com psicólogo, tentando amenizar o impacto da situação na criança.

Ao Portal, a mãe de Diego, Maria da Graça Scott, 70, professora aposentada do Estado, contou que as manhãs e o início das noites têm sido de tristeza. Nesses períodos, o filho costumava tomar café com ela e a ausência é dolorosa. “Todos ainda estamos abalados, sem acreditar. Ainda não caiu a ficha”, relata a ex-educadora.

O pai Edson tem se sentido culpado por ter chamado a guarnição policial naquele dia, fato que foi relatado em uma manifestação em frente ao Fórum da Comarca, quando o caso ainda estava nas semanais iniciais. “Eu peço a Deus todos os dias que a gente possa encontrar o corpo e fazer um enterro digno. O dia que eu morrer, quero já ter enterrado ele”, pontua. A família projeta realizar um protesto nos próximos dias.

Caso continua na Justiça Militar

Sem indiciamento pela Polícia Civil, o processo na Justiça comum foi arquivado a pedido da 1ª Promotoria de Laguna. “Mas se novas provas surgirem o caso pode ser reaberto”, adiantou uma nota enviada à reportagem no dia 5 de março, quando o inquérito da PM foi concluído.

Por outro lado, o processo aberto na Vara Militar do Tribunal de Justiça, em Florianópolis, prossegue com acompanhamento da 5ª Promotoria de Justiça da capital catarinense. O último andamento processual é desta quinta-feira, 15. A ação penal segue na fase de instrução e não tem previsão de decisão.

Defesas

Além de acompanhar a tramitação do caso na capital, a defesa da família de Scott trabalha para “solicitar a corregedoria que os policiais permaneçam afastados das suas funções em razão da gravidade dos crimes imputados e da falta de esclarecimentos após mais de dois meses do desaparecimento”.

Os advogados dos policiais envolvidos no caso não se manifestaram até a última atualização. O conteúdo será atualizado quando houver posicionamento de ambos.

Arquivo pessoal

Notícias relacionadas