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Cientista lagunense vacinada nos EUA reforça importância da imunização: ‘Ciência é muito séria’

Lagunense que mora há quatro anos nos Estados Unidos, Maíra Assunção Bicca, 32, viu a espera pela imunização contra o coronavírus começar a ter fim quatro dias atrás. E foi com um sorriso largo, que a cientista recebeu na última quinta-feira, 14, a primeira dose da vacina desenvolvida pelo laboratório americano Pfizer, um dos imunizantes aplicados no país desde o fim do ano passado.

Ela é uma das profissionais que atua na Universidade Johns Hopkins (JHU, na sigla em inglês), instituição centenária reconhecida mundialmente pelas pesquisas científicas, e fez parte do grupo ‘1C’, formado por pesquisadores que não atuam diretamente com o vírus. A preparação da universidade começou em outubro de 2020 e deu prioridade às pessoas que atuam no hospital da instituição e tem exposição direta ao Sars-CoV-2. A vacinação não foi obrigatória.

Em entrevista ao Portal Agora Laguna, a doutora em Farmacologia que deixou a cidade natal para trilhar carreira no ramo da neurociência, contou a experiência e destacou a importância da vacinação para o mundo. “Foi como qualquer outra vacina”, resume. A próxima dose do imunizante será aplicada em 5 de fevereiro, conforme prevê o manual de utilização da Pfizer. Assista reportagem acima.

“O privilégio de ter tomado antes dependeu da organização da universidade, mas o processo de vacinação foi como qualquer outro que fiz no SUS, no posto de saúde”, compara. A única diferença entre as imunizações tradicionais foi que Maíra ficou em observação por cerca de 15 minutos, para analisar possíveis reações pós-aplicação – felizmente, nenhuma anormalidade ocorreu. “[Não tive] nenhuma reação. A única coisa que senti é que, como a via de administração é no músculo, fiquei com a região do braço, onde recebi a vacina, dolorida por um dia”.

Maíra relata que já realizou quatro testes para saber se foi infectada com o Sars-CoV-2 e todos deram negativo – o quinto deve ser feito nesta terça-feira, 19. “Já tive contato com pessoas infectadas, mas não fui contaminada”, diz.

Maíra com o cartão de vacinação – Foto: Arquivo pessoal

Vacina usa tecnologia ‘relativamente nova’

Além da Pfizer, os EUA utilizam um imunizante desenvolvido pelo Laboratório Moderna, também instalado no país. Ambos têm modo de fabricação semelhante, utilizam o método do RNA mensageiro (RNAm). O RNA é a sigla para ácido ribonucleico, molécula do organismo humano que sintetiza proteínas.

“É uma vacina com uma tecnologia relativamente nova. Evito usar esse termo pois pode parecer que foi inventada ontem, mas não, relativamente nova porque não existe nenhuma vacina no mercado com esse método”, explica Maíra. Há cerca de 12 anos, pesquisadores já analisam o uso do RNAm na produção de tecnologias para tratamento humano.

Para detalhar esse método, a cientista recorre a um exemplo prático. Ela compara o ácido ribonucleico ao código Morse, sistema de comunicação baseado no uso de sinais codificados que eram enviados por um telégrafo e traduzidos pelo receptor na outra ponta.

“A maior parte das vacinas que a gente tem hoje, já disponíveis e toma no postinho, usa o próprio patógeno inativado, ou seja, não tem potencial de causar doenças, mas faz com que o organismo interprete isso como um ‘perigo’ e as células de defesa produzam anticorpos para combater a doença, caso a pessoa seja exposta ao vírus que é capaz de produzir efeitos maléficos”, descreve.

Nas vacinas de RNAm, o ácido ribonucleico assume o papel do vírus inativo e tem a mesma função: porém o corpo tem que decodificar essa mensagem, como no código Morse, para que aquele agente introduzido sirva como alerta e faça com que as células de defesa do organismo produzam o anticorpo.

Foto: Arquivo pessoal

Confiança na ciência

Imunizada, Maíra ressalta a confiança na ciência. Para ela, comentários de que há interesse por trás da vacina ou que ela pertence a um país só são irrelevantes e desnecessários. “Eu tenho para dizer às pessoas que a ciência é uma coisa muita séria. O trabalho que a gente faz é muito rigoroso, passa por vários órgãos reguladores. A gente não faz o que quer, é algo muito controlado”, afirma.

“Quando se pensa em uma vacina vinda de um só país, é um pensamento muito pequeno. É uma iniciativa global, tem muitos pesquisadores envolvidos, de diferentes nações”, mas ressalva: “Já trabalhei com a indústria farmacêutica e não vou ser hipócrita de dizer que não tem interesse econômico. Tem, como qualquer indústria que vive dentro de uma sociedade capitalista. O fim é lucrativo, porém, existem muitos mecanismos que controlam os medicamentos que são liberados para o uso do ser humano”.

Ela também afirma: “As pessoas têm que parar com falsos moralismos. Há um tempo, o Brasil viveu o escândalo do papelão na carne, falou-se por duas semanas e vida que segue: o país continuou comendo carne, a vida normalizou. Um tempo antes disso teve o escândalo do leite, com traços de formaldeído encontrados, e agora, vida que segue. Acho que as pessoas estão questionando demais, falando e espalhando coisas que não tem fundamento, incentivando a não vacinação. Quando se tinha evidências claras de algo tóxico que poderia causar problema no organismo, simplesmente foi ignorado e continuaram a vida normal”.

Só nos Estados Unidos, 3,7 milhões foram vacinadas até a última sexta-feira, 15, segundo dados do portal Our World in Data, que tem apoio da Universidade de Oxford. No mundo, são 35,8 milhões de imunizados.

Foto: Arquivo pessoal

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