Quase duas décadas atrás, uma jovem carioca começou a trilhar carreira na Marinha do Brasil, a segunda maior das Américas. Carla Luzia de Oliveira Silvino se tornou capitã-tenente da armada e hoje atua na Capitania dos Portos em Laguna, na função de ajudante – que é o segundo cargo na hierarquia da delegacia.
O que hoje pode parecer normal, até 1980, era distante imaginar que um dia a mulher entraria para a Marinha e poderia ocupar funções de destaque dentro da armada. Apesar de na história já ter havido alguns momentos em que mulheres fizeram parte da corporação, só naquele ano é que foi oficializada a permissão para que elas começassem a ingressar nas fileiras e a ocupar cargos importantes na organização militar. E já fazem quatro décadas dessa “novidade”.
“Sinto-me feliz em fazer parte de uma instituição que há 40 anos reconheceu as vocações existentes entre o público feminino de servir às Forças Armadas. Desde então, a Marinha do Brasil tem expandido as oportunidades para esse público, possibilitando sua presença em funções técnicas, administrativas, setores operativos e em missões de âmbito internacional”, avalia a capitã-tenente. Para ela, essa diversidade possibilita o convívio de profissionais com distintas culturas, conhecimentos e aptidões. “Favorece o aprendizado com as diferenças, aumentando a criatividade e possibilitando o alcance de melhores resultados no desempenho das atribuições”, frisa.
Carla Luzia conhece bem a rotina militar, afinal tem parentes que fazem parte da estrutura militar brasileira. A primeira tentativa de ingresso, no entanto, foi por um outro motivo. “Em 1999 me inscrevi no Concurso do Corpo Auxiliar de Praças apenas para acompanhar uma amiga que precisava de companhia para o deslocamento até o estádio do Maracanã, local onde eram realizadas as provas na cidade do Rio de Janeiro). Naquela oportunidade ambas não foram aprovadas”, relembra. Incentivada pelo irmão e por um primo, ela se preparou para o concurso do ano seguinte e foi aprovada.
Entrando para as fileiras em 2001, foi transferida da terra natal para a Marinha do Rio Grande do Norte seis anos depois. “Conciliar a nova rotina de trabalho com a experiência de morar em um local até então desconhecido, com a continuidade do ensino superior em uma nova faculdade, e com a ausência dos familiares contribuíram sobremaneira para meu amadurecimento pessoal e profissional. Essa experiência enriqueceu minha visão de mundo, contribuindo positivamente para minhas decisões posteriores, inclusive a que me trouxe até o cargo atual”, observa.
Desde 2018 atuando na Capitania em Laguna, a capitã-tenente afirma gostar da cidade e diz ter sido bem acolhida aqui no município. Também aproveita para orientar às jovens que desejam seguir o mesmo caminho que o seu: “Acreditem sempre em vocês mesmas. Preparem-se, estudem, dediquem-se! A Marinha é um lugar de infinitas possibilidades para àquelas que se esforçam”.
Capitania de Laguna existe há 97 anos
A Capitania de Laguna (DelLaguna) foi fundada em setembro de 1923 com a atribuição de fiscalizar e garantir a segurança da navegação e, principalmente, a salvaguarda da vida humana no mar. Atualmente, a jurisdição abrange 39 cidades entre Paulo Lopes e Passo de Torres, já na divisa com o Rio Grande do Sul. O órgão também atua na prevenção da poluição hídrica causada por embarcações, além de formarmos os profissionais do mar, por meio dos cursos do Ensino Profissional Marítimo.
“Representa o trabalho conjunto com as demais entidades governamentais que atuam no Sul do estado de Santa Catarina, aumentando a segurança das embarcações, dos seus tripulantes e passageiros. Com esse trabalho conjunto podemos ter a certeza de que estamos levando a segurança aos banhistas nas diversas praias da nossa área de jurisdição”, resume o capitão de corveta James Batista, atual delegado da capitania.
Na visão do militar, a presença da Capitania em Laguna é muito importante, já que uma grande quantidade de pessoas sobrevivem da pesca ou utiliza as águas da Lagoa de Santo Antônio dos Anjos para o seu lazer. “É uma grande satisfação profissional poder estar dirigindo a Delegacia da Capitania dos Portos em Laguna, onde posso contar com o auxílio de excelentes militares que estão dispostos, assim como eu, para levar a segurança da navegação para todos os tripulantes e passageiros que navegam”, avalia.
James Batista entrou na armada como servidor civil e em 2007 começou a carreira de oficial ao prestar concurso público. “Tenho muito orgulho de fazer parte da Marinha e poder proporcionar a segurança da navegação para todos, principalmente nas operações de busca e salvamento de pessoas que estavam em perigo no mar”, comenta.
O sentimento de orgulho em fazer parte de uma organização militar é compartilhado também pelos marinheiros. “A Marinha representa a minha segunda casa, pois aqui realizei sonhos que jamais pensei que seriam realizados. A minha vinda foi motivada pelo desejo de servir em uma instituição que concede oportunidades de crescimento social/profissional e também por gostar das coisas do mar”, pontua o suboficial reformado Romário Cordeiro, atualmente o militar mais antigo da DelLaguna com 21 anos de experiência.