Lagunense relembra tragédia dos Correios de Içara: ‘Gratidão pela vida’

Arquivo pessoal

Quarta-feira, 10 de agosto de 2005. Manhã de sol, mas fazia frio. No dia anterior, a chuva havia molhado a calma Içara, na região carbonífera catarinense. Este era para ser um dia de trabalho comum para os funcionários dos Correios da cidade, entretanto não foi. Pouco depois das 9h15, o prédio da agência postal cedeu um andar, soterrando funcionários e clientes. Apreensão tomou conta do município.

Os bombeiros foram acionados, assim como a Polícia Militar. O ineditismo da situação não deixou que os trabalhos fossem prejudicados e com agilidade, as pessoas foram retiradas dos escombros uma a uma pelos socorristas, que foram divididos em duas frentes: uma atuava no resgate e outra, no escoramento do prédio.

A lagunense Carla Cristina de Moraes, hoje, trabalha na agência postal de Laguna, mas quinze anos atrás era uma das funcionárias da estatal em Içara, onde chegou a ser gerente mais tarde. Ela estava iniciando mais um dia de trabalho, quando o incidente aconteceu. Foram cerca de três horas embaixo dos escombros até ser resgatada.

“Nós ouvimos um barulho forte e caímos. Não tinha noção do que havia acontecido, só no mesmo dia à tarde, em que passei por lá, é que tive noção do que ocorreu. O prédio desceu um andar e meio”, relembra a sobrevivente, que voltou a trabalhar cinco dias depois. A estatal montou uma agência provisória e também forneceu ajuda especializada.

Carla segura capa de jornal com o destaque da tragédia – Arquivo Pessoal

A ‘Tragédia dos Correios’, como o incidente passou à história, deixou quatro mortos: Pedra Borges (57 anos), Nádia Borges (39 anos), Mário D’ávila (49 anos) e Nivaldo Fernandes (41 anos).

Além de Carla, nove pessoas também sobreviveram, entre funcionários e clientes: José Moacir Della Bruna, Nereu Domingos Dagostim, Arino Valvassori Colle, Ladair Colle, Odilon Teixeira, Jorge Marcílio Cardoso, Ézio José Antônio, Ivonete Fernandes, Tiago Cardoso, Jucinei de Souza Francisco, Maria da Glória De Villa Barcelos e Giana Bortolotto.

A perícia apontou posteriormente como causas para o incidente o sobrepeso na estrutura e o material utilizado na construção do prédio que tinha três pavimentos. A edificação tinha sido erguida em 1999 e foi demolida dias depois.

A Justiça chegou a determinar o pagamento de 50 salários mínimos para dois funcionários, além dos 300 salários mínimos que seriam para os descendentes das vítimas fatais, mas os valores foram rebaixados a um salário mínimo. A decisão, de 2015, foi baseada na readequação à condição financeira do único réu que ainda responde pelo colapso do prédio em agosto de 2005.

O engenheiro responsável pela obra teve substituída também a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade por 1h diária pelo tempo da condenação. Segundo Carla, não há informação sobre o pagamento de indenizações.

Quinze anos depois, Carla se tornou corredora com várias medalhas já conquistadas – na entrevista ao Portal Agora Laguna é possível ver parte da coleção de prêmios -, mas não esquece aquela manhã de quarta-feira: “Todo ano no dia 10 de agosto faço questão de relembrar para novamente agradecer pela oportunidade de ter conseguido sobreviver e quinze anos depois, o sentimento é de gratidão pela vida”, finaliza a sobrevivente.

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