Comunidade do Farol reforça necessidade de conscientização durante safra da tainha

Moradores nativos da comunidade do Farol de Santa Marta e demais localidades da região da ilha têm acompanhando atentamente os primeiros lanços de tainha que são pescados. A temporada abriu no dia 1º e já começa a animar os pescadores, que se lançam ao mar em busca do sustento familiar.

Todos os anos, a pesca artesanal atrai olhares atenciosos de visitantes da própria Laguna e de outras cidades, que se dirigem à região para acompanhar a prática centenária e claro, também comprar algumas tainhas.

Esse ano, o cenário é diferente. A pandemia do novo coronavírus trouxe uma realidade nunca imaginada pela comunidade e os moradores têm procurado ressaltar a importância dos cuidados de prevenção para impedir a propagação do vírus. Até o momento, Laguna tem 15 casos confirmados, nenhum na região do Farol.

O turismo não está impedido, mas deve ser realizado com atenção às normas sanitárias. Nesta sexta-feira, 15, a comunidade instalou placas ao longo da orla da Prainha do Farol pedindo para que fotos e vídeos “em tempo real” não sejam publicadas. O objetivo é impedir a formação de aglomero na localidade.

O empresário local, Alihson Medeiros, da Farol Virtual, é uma dessas pessoas preocupadas e detalha que a ideia surgiu em conjunto com os demais moradores. “Foi uma maneira que encontramos juntamente com a comunidade para conscientizar os turistas que vêm para cá, propositalmente, assistir a pesca da tainha, a não postarem as fotos, pois isso atrai mais curiosos. E também para incentivar a utilização de máscaras e respeitar a distância de 1,5 metro”, detalha Medeiros.

Ao longo da orla, uma faixa de segurança também foi colocada, isolando e impedindo a entrada na praia de pessoas que não sejam pescadores. “É uma campanha que vai acontecer durante toda a praia. Quem dera não precisasse, que todos se conscientizassem e tivessem um pouco mais de cuidado, mas a gente tem que se adaptar. Isso é uma iniciativa em conjunto, que deu certo”, finaliza.

O mesmo alerta foi incorporado pela prefeitura municipal, que iniciou campanha de conscientização usando meios de comunicação e redes sociais para incentivar a importância da proteção para evitar o coronavírus e de respeito à comunidade nativa.

Mais de 300 quilos na primeira captura

Ainda que de forma tímida, as primeiras tainhas começaram a aparecer na prainha do Farol de Santa Marta, após a abertura da safra, no início do mês de maio. Os pescadores artesanais estão confiantes após o primeiro cerco deste domingo, 10.

Este ano, eles tentam se recuperar de uma safra abaixo do planejado. Em 2019, os resultados ficaram bem abaixo do esperado, chegando a 1,16 mil toneladas, frente à estimativa inicial de 2,5 mil toneladas.

No primeiro lanço na Prainha, segundo apurado, cerca de 300 quilos do pescado foram capturados. No Farol, a captura do pescado ocorre por arrastão, com o cerco do cardume feito pelos barcos, em que um olheiro-pescador vê os peixes do alto das encostas.

De acordo com a prefeitura, 22 embarcações motorizadas receberam licenças para a pesca da tainha em 2020, após uma força-tarefa da Secretaria de Pesca e Agricultura, Procuradoria Jurídica e Intendência da Ilha. Alguns pescadores tiveram os pedidos indeferidos e receberam apoio do poder público municipal para a reconsideração da decisão e a permissão para a pesca a partir de 15 de maio.

Foto: Restaurante Maré Mansa / Divulgação

Medidas de proteção

No última dia 30 de abril, o governo do Estado publicou uma portaria com as medidas de prevenção ao coronavírus para a pesca de arrasto de praia durante a safra da tainha, que iniciou neste dia 1ª de maio. Entre as exigências, está o uso de máscaras por todos os envolvidos na pesca, além da restrição na quantidade de pessoas que podem permanecer na praia e nos barcos. Acesse o documento completo clicando aqui. 

“Sabemos como a pesca da tainha é importante para Santa Catarina e nesse momento tão delicado é fundamental que os pescadores prestem atenção a todas as exigências do Governo do Estado para evitar a propagação do coronavírus. Precisamos tomar todos os cuidados necessários, como o uso de máscara, o distanciamento e evitar a aglomeração de pessoas”, destaca o secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Ricardo de Gouvêa.

O arrasto de praia é uma modalidade de pesca realizada por comunidades tradicionais, que utilizam embarcações motorizadas ou a remo para levar ao mar uma rede, deixando uma ponta na praia fechando um cerco no mar. A rede é puxada na praia por pescadores e auxiliares de pesca nas suas duas pontas ou extremidades. “Pedimos a colaboração de todos e desejamos aos pescadores uma boa safra”, finaliza Gouvêa.

Surfe também se adapta

A relação surfistas e pescadores também ocorre com respeito entre ambas as partes e na maioria das vezes, com cooperação. As praias foram fechadas para a prática esportiva, como explicou a Associação de Surf e Tow-in do Farol de Santa Marta (ASTFSM) em nota pública divulgada no início da safra da tainha.

A entidade ressaltou que a Prainha e o Cardoso estão fechados para a prática, inclusive com apoio da associação de empresários locais, que contribuirá “informando e conscientizando os seus hóspedes e clientes sobre as restrições impostas, com o objetivo de ajudar os pescadores neste momento de dificuldade ímpar na história mundial”.

No Cardoso, segundo a associação, será liberado o surfe apenas quando houver grandes ondas, já que isso atrapalha a pesca. Assim, os surfistas ficam liberados para treinar a modalidade de surfe em ondas grandes. “Esta decisão se deu ao fato de não desperdiçarmos estas grandes ondulações para o treino e consolidarmos cada vez mais a praia do Cardoso como uma das maiores e melhores Ondas Grandes do Brasil”, justificou a ASTFSM.

“Um maior respeito aos pescadores durante esta temporada de pesca também está sendo solicitado para as praias da Cigana e praia Grande, onde se pede que os surfistas não entrem na água caso os pescadores estejam trabalhando no local”, acrescentou o texto.

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