Como o meu pai, engenheiro, foi construir o Porto de Itajaí e mais tarde, em Laguna, o primeiro porto carvoeiro do Brasil em 1940, iniciei os estudos nas cidades de Laguna e Itajaí, Santa Catarina. Estudei em um colégio de freiras e em um grupo escolar. Ao lembrar de Laguna não posso deixar de citar Jerônimo Coelho, pai do jornalismo brasileiro e da lagunense Anita Garibaldi, a heroína dos dois mundos.
Estudei depois no Colégio Catarinense, e concluí no Ginásio Lagunense, hoje ensino fundamental, onde fui presidente de centro estudantil. – Mário Petrelli, ao lembrar dos tempos de estudante, em entrevista ao Memórias do Paraná
O mundo da comunicação catarinense ficou de luto na tarde desta quarta-feira, 22. Aos 84 anos de idade, morreu o empresário Mário José Gonzaga Petrelli, fundador dos grupos RIC (no Paraná) e ND (em Santa Catarina), vítima de parada cardíaca causada por hemorragia.
Nascido em Florianópolis, no ano de 1935, Petrelli iria completar 85 anos no próximo dia 31 de maio. Ainda jovem, iniciou os estudos primários na cidade de Itajaí, onde o pai, engenheiro, atuou na construção do porto daquele município.
Alguns anos mais tarde, viria para Laguna, também junto da família, onde chegaria a ser aluno do Colégio Stella Maris e do Ginásio Lagunense, escola de referência para todo o Sul catarinense. Mesmo distante da cidade juliana, cultivava amizades na terra de Anita, e quando podia, citava momentos da vivência na terra do fundador da imprensa catarinense.
Deixou Laguna para morar na capital catarinense e aos 15 anos, se mudou para Curitiba (PR), onde cursou Direito, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1959. No estado vizinho, chegou a ser executivo de empresa de seguros, onde também fez carreira promissora. Mas foi no jornalismo que Petrelli se encontrou. Iniciou como repórter de política n’O Dia e A Tarde, jornais importantes que circulavam em Curitiba.
Em 1975, virou empresário, comprando duas emissoras de rádio, uma ficavam em Curitiba (PR) e outra em Joinville. Os negócios expandiram para a televisão com a compra da pioneira TV Coligadas (Blumenau, hoje NSC TV Blumenau), no ano seguinte e a conquista da concessão da TV Cultura (hoje NSC TV Chapecó), no final da década. As emissoras seriam vendidas anos depois.
A velocidade com que fazia negócio fez com que fosse lhe oferecida uma possibilidade ímpar. Com a Rede Tupi, primeiro grupo de televisão do Brasil, em decadência financeira e prestes a falir, surgiu o boato de que Petrelli tinha interesse em comprar as concessões e manter as emissoras funcionando. Ao jornal Diarinho, de Itajaí, ele relembrou:
O Paulo Pimentel, que está vivo, deu algumas entrevistas na época dizendo que quem ia comprar a rede Tupi no Brasil era o doutor Mário Petrelli e ele. Uma vez eu entrei no ministério das Comunicações, tinha uns 50 jornalistas junto, e o ministro Quandt me perguntou: “Você vai comprar?”. Eu disse: “Ministro, eu não tenho cacife para comprar a rede Tupi. A rede Tupi só tem uma maneira… É o governo entender, para que não haja o monopólio da Globo, que é preciso fatiar a rede Tupi, região por região, chamando empresários de cada região”. Aí o governo resolveu abruptamente cassar a Tupi.
Na década de 1990, montou o grupo RIC no Paraná com a aquisição de algumas emissoras em torno da rádio Independência – que dá nome ao conglomerado. Em Santa Catarina, o grupo se aliou à família Comelli, dona das concessões das TVs O Estado Florianópolis e Chapecó e ao grupo da TV Planalto (Lages), criando aqui o Sistema Catarinense de Comunicação (SCC), retransmitindo o SBT. No Paraná, as emissoras eram afiliadas à extinta Manchete e depois, viraram integrantes da Record, que começava a se expandir.
No novo milênio, com o término da parceria entre a TV Planalto e a família Petrelli, o SCC se desfez e abriu caminho para a Rede SC, ainda filiada ao SBT. A emissora de Lages virou afiliada da RedeTV!.
Em 2008, as emissoras de Santa Catarina deixam o SBT e migram para a Record – que tinha três canais no estado. Ali surgiu a RIC Santa Catarina, com emissoras em Florianópolis, Joinville, Blumenau, Xanxerê, Chapecó e Itajaí.
O grupo montou ainda uma rádio na capital e se lançou no mercado impresso com o jornal Notícias dos Dia e a Revista iTS, voltada ao mundo jovem. No ano passado, o conglomerado se renovou mudou para ND (Noite e Dia). As emissoras de TV e rádio, e o jornal se unem em torno da mesma marca e com conteúdo editorial integrado.
Mário José Gonza Petrelli estava internado no Hospital Baía Sul, em Florianópolis, desde a noite de terça-feira, 21. Em comunicado, o Grupo ND disse que o empresário foi encaminhado na noite de terça para a unidade de saúde, após passar mal na própria residência. Ele deixa a esposa do segundo casamento, cinco filhos e dez netos. O governo de Santa Catarina decretou luto oficial por três dias.